Com tantos avanços na tecnologia acontecendo, podemos fazer uma pausa e refletir sobre algumas das maiores descobertas tecnológicas e científicas que ocorreram em 2018. A proposta é de Aaron Frank, escritor e palestrante da Singularity University.
Para abordar o tema, ele entrou em contato com alguns palestrantes e professores da Singularity University nos vários domínios de tecnologia e perguntou:
“Qual, na sua opinião, foi o maior desenvolvimento em sua área de foco este ano? Ou qual foi o avanço pelo qual você mais se surpreendeu em 2018?”
As repostas estão em um artigo intitulado The Most Surprising Tech Breakthroughs of 2018, o qual traduzimos para você.
Dra. Tiffany Vora | Diretora Acadêmica e Vice-Presidente, Biologia Digital e Medicina da Singularity University
“Isso é fácil: bebês CRISPR (em tradução literal, o termo significa Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Espaçadas. É considerada como uma técnica revolucionária por permitir a manipulação de genes com elevada precisão). Eu sabia que era tecnicamente possível, e passei dois anos prevendo que isso aconteceria primeiro na China.
Tinha certeza que era apenas uma questão de tempo, mas não consegui prever a falta de supervisão, o processo de consentimento duvidoso, a escassez de dados publicamente disponíveis e o direcionamento de uma doença que já sabemos como prevenir e tratar, e que era de baixo risco para as crianças de qualquer maneira. Não estou convencida de que isso seja um avanço técnico, já que uma das meninas provavelmente não é imune ao HIV, mas com certeza foi uma surpresa.”
Para mais informações, leia o resumo da Dra. Vora sobre as notícias recentes da China sobre embriões humanos editados.
Andrew Fursman | Cofundador/CEO 1Qbit, Corpo Docente, Computação Quântica, Singularity University
“Duas surpresas de última hora chamaram a atenção: primeiro, logo antes do fechamento do governo, uma realização legislativa fornecerá U$ 1,2 bilhão em pesquisa de computação quântica nos próximos cinco anos. Em segundo lugar, há o surgimento de íons como uma arquitetura de computação quântica verdadeiramente viável e escalável.”
* Leia este perfil Gizmodo para aprender mais sobre computação quântica.
Ramez Naam | Presidente, Energia e Sistemas Ambientais, Singularity University
“2018 foi um ano de muitas surpresas no campo de energia. Na área solar, vimos preços não subsidiados nas partes ensolaradas do mundo a pouco mais de dois centavos por kwh, ou menos da metade do preço da nova eletricidade a carvão ou a gás. No sudoeste dos Estados Unidos e no Texas, a nova energia solar também é agora mais barata do que a do carvão ou gás. Mas, ainda mais chocante, na Alemanha, que é um dos países menos ensolarados do mundo (recebe menos luz solar do que o Canadá), a oferta média de energia solar em um leilão de 2018 foi inferior a 5 centavos de dólar por kwh. Isso é tão barato quanto o gás natural nos EUA e muito mais barato que o carvão, o gás ou qualquer outra nova fonte de eletricidade na maior parte da Europa.
Na verdade, agora é mais barato em algumas partes do mundo construir novas usinas solares ou eólicas do que operar usinas de carvão existentes. O Carbon Tracker calcula que, nos próximos 10 anos, ficará mais barato construir novos sistemas eólicos ou solares do que operar energia a carvão na maior parte do mundo, incluindo especificamente os EUA, a maior parte da Europa e – mais importante – a Índia e a China, país considerado o queimador de carvão do mundo.”
Darlene Damm | Vice-Presidente, Corpo Docente, Global Grand Challenges, Singularity University
“Em 2018, vimos muitas áreas no Global Grand Challenges avançarem – foram avanços na tecnologia de agricultura robótica e carne cultivada, construção em 3D de baixo custo, tipos mais sofisticados de educação on-line expandindo para todos os cantos do mundo e governos criando novas políticas para lidar com a ética do mundo digital. Essas eram as áreas que estávamos observando e imaginávamos que haveria mudanças.
O que mais me surpreendeu foi ver jovens, especialmente adolescentes, começarem a aproveitar a tecnologia de forma poderosa e usá-la como uma plataforma para fazer com que suas vozes sejam ouvidas e gerar mudanças significativas no mundo. Em 2018, vimos adolescentes falar sobre diversos temas relacionados ao seu bem-estar e lançar movimentos digitais em torno de assuntos como armas e segurança nas escolas, aquecimento global e questões ambientais. Muitas vezes falamos sobre o dano que a tecnologia pode causar aos jovens, mas, por outro lado, pode ser uma ferramenta muito poderosa para eles começarem a mudar o mundo hoje. É algo que espero ver mais no futuro.”
Pascal Finette | Presidente, Empreendedorismo e Open Innovation, Singularity University
“Sem dúvida, a adoção rápida e massiva da Inteligência Artificial, especificamente Machine Learning, em setores, indústrias e organizações. O que era uma curiosidade para a maioria das empresas no início do ano foi rapidamente parar nas mesas de reuniões de liderança e da diretoria, e fez parte da agenda do departamento de inovação e TI. É difícil encontrar uma empresa de médio a grande porte que não esteja experimentando ou implementando Inteligência Artificial em vários aspectos de seus negócios.
Um lado um pouco sarcástico de responder à pergunta: o declínio muito rápido no interesse em blockchain (e criptomoedas). A festa da blockchain foi curta, feroz e terminou mais cedo do que a maioria esperava, com uma enorme ressaca para alguns. A boa notícia: agora podemos nos concentrar em explorar os casos nos quais blockchain realmente oferece vantagens reais sobre abordagens centralizadas.”
Hod Lipson | Diretor, Creative Machines Lab, Universidade de Columbia
“A maior surpresa para mim neste ano em robótica foi aprender “destreza”. Por décadas, os roboticistas vêm tentando entender e imitar a manipulação hábil. Nós, humanos, parecemos ser capazes de manipular objetos com nossos dedos com incrível facilidade – imagine vasculhar um monte de chaves no escuro. Embora tenha havido muito progresso na percepção das máquinas, a manipulação hábil permaneceu elusiva.
Parecia haver algo quase mágico em como nós humanos podemos manipular fisicamente o mundo físico ao nosso redor. Décadas de pesquisa em agarrar e manipular, e milhões de dólares gastos em desenvolvimento de hardware robótico, nos trouxeram pouco progresso. Mas no final de 2018, o grupo Berkley OpenAI demonstrou que esse obstáculo pode finalmente sucumbir ao Machine Learning também. As máquinas aprenderam a manipular um objeto físico com incrível fluidez. Este pode ser o começo de uma nova era para a robótica.”
Jeremy Howard | Pesquisador Fundador, fast.ai, Fundador/CEO, Enlitic, Faculdade de Ciências de Dados, Singularity University
“O maior desenvolvimento em Machine Learning este ano tem sido o desenvolvimento de um efetivo processamento de linguagem natural (PLN). O New York Times publicou um artigo intitulado Finalmente, uma máquina que pode finalizar sua frase, que argumentou que as redes neurais da PLN alcançaram um marco significativo em termos de capacidade e velocidade de desenvolvimento. A capacidade de “terminar a sua frase” mencionada no título refere-se a um tipo de rede neural chamado “modelo de linguagem”, que é literalmente um modelo que aprende a terminar suas frases.
No início deste ano, dois sistemas (um, chamado ELMO, do Allen Institute for AI, e o outro, denominado ULMFiT, desenvolvido por mim e por Sebastian Ruder) mostraram que tal modelo poderia ser ajustado para melhorar drasticamente quase todas as tarefas de PLN que os pesquisadores estudam. Este trabalho foi desenvolvido pelo OpenAI, que por sua vez foi bastante ampliado pelo Google Brain, o qual criou um sistema chamado BERT que atingiu um desempenho de nível humano em alguns dos maiores desafios da PLN.
Em 2019, espere ver modelos de linguagem afinados usados para tudo, desde a compreensão de textos médicos até a construção de mídias sociais disruptivas.”
Andre Wegner | Fundador/CEO Authentise, Presidente, Fabricação Digital, Singularity University
“O mais surpreendente para mim foi a extensão e a velocidade com que a indústria finalmente se abriu. Enquanto anteriormente apenas alguns fornecedores de impressão 3D tinham APIs e sabiam o que fazer com elas, 2018 viu quase todos os OEM (ou fabricantes de equipamentos originais) permitindo acesso a dados e, ainda mais surpreendente, evitando padrões proprietários e adotando o MTConnect, como a 3D Systems e Stratasys. Isso significa que, em dois ou três anos, o acesso aos dados pelas máquinas será fácil, comum e gratuito. O valor estará no que está sendo feito com esses dados.
Outro exemplo dessa abertura são os anúncios aparentemente intermináveis de workflows integrados: o anúncio da GE com a maioria dos principais fabricantes de software para permitir soluções integradas, o anúncio da EOS com a Siemens e muito mais. É claro que todos os atores deram um passo à frente em termos de abertura. O resultado é um ritmo mais rápido de inovação, particularmente nos domínios de software e dados que são cruciais para permitir um fluxo de trabalho digital abrangente para impulsionar a fabricação ágil e resiliente.
Estou mais otimista de que conseguiremos isso agora do que eu estava no final de 2017.”
Paul Saffo | Presidente, Estudos Futuros, Singularity University, Ilustre Professor Visitante, Media-X Rede de Pesquisa na Stanford
“O desenvolvimento mais importante em tecnologia este ano não é uma tecnologia, mas sim as surpresas científicas possibilitadas pelas recentes inovações tecnológicas. Minha lista resumida inclui a descoberta da “lua de netuno“, uma lua em escala de Netuno circulando um planeta à escala de Júpiter a 8 mil anos-luz de nós; a implantação bem-sucedida do Mars InSight Lander; e a detecção de ANITA (que poderá ser uma nova partícula subatômica que eliminará o modelo padrão). Essas descobertas nos levam às inovações futuras que melhorarão o mundo – e acenderão nossa imaginação”.
Pablos Holman | Inventor, Hacker, Corpo Docente, Singularity University
“Apenas cinco ou dez anos atrás, se você tivesse perguntado a algum de nós, tecnólogos ‘O que é mais difícil para robôs? Olhos ou dedos?’, todos nós teríamos respondido: os olhos. Os robôs têm olhos extraordinários agora, mas mesmo em um robô cirúrgico, os dedos estão dormentes e não sentem nada. Pesquisadores de robótica da Stanford inventaram pontas de dedos que podem sentir, e isso será um ponto decisivo que permite que os robôs cheguem a todos os lugares que ainda não foram.”
Nathana Sharma | Blockchain, Política, Direito e Ética, Corpo Docente, Singularity University
“O ano de 2017 foi o pico de blockchain. 2018 foi para redefinir expectativas e desenvolvimento tecnológico, mesmo com os mercados de criptomoedas enfrentando uma baixa. Agora é ver aumentar a adoção e os aplicativos que as pessoas querem e precisam utilizar. Uma notícia incrível de dezembro de 2018 é que o Facebook está desenvolvendo uma criptomoeda para os usuários fazerem pagamentos através do WhatsApp. É surpreendentemente rápida a adoção desta nova tecnologia e indica o quão poderosa ela é.”
Neil Jacobstein | Presidente, Inteligência Artificial e Robótica, Singularity University
“Acho que uma das melhorias mais visíveis na IA foi ilustrada pelo vídeo do Boston Dynamics Parkour. Isto não foi devido a uma melhoria nos acelerômetros ou engrenagens. Foi ocasionado pelas melhorias nos algoritmos de IA e nos dados de treinamento. Para ser justo, o vídeo lançado foi escolhido a partir de inúmeras tentativas, muitas das quais terminaram com um acidente. No entanto, o fato de poder ser realizado em 2018 foi uma vitória real tanto para a IA quanto para a robótica ”.
Divya Chander | Presidente, Neurociência, Singularity University
“2018 inaugurou uma nova era de tendências exponenciais na modulação cerebral não invasiva. Mudar o comportamento ou restaurar a função assume um novo significado quando as interfaces invasivas não são mais necessárias para manipular os circuitos neurais. No final de 2018 tivemos dois anúncios surpreendentes: a capacidade de produzir organoides neurais (mini cérebros) em células-tronco neurais que começaram a expressar atividade elétrica, imitando a função cerebral de bebês prematuros; e a primeira (conhecida) aplicação de CRISPR para alterar geneticamente dois fetos crescidos através de fertilização in vitro. Imagine o que acontecerá se começarmos a mexer com circuitos neurais e inteligência.”
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Sobre o Autor
Aaron Frank é escritor e palestrante e uma das primeiras contratações da Singularity University. Aaron está focado na interseção de tecnologias emergentes e na aceleração da mudança e é fascinado pelo impacto que elas terão sobre os negócios, a sociedade e a cultura. Saiba mais.
Sobre a Glic Fàs
A ideia de criar a Glic Fàs surgiu em 2013 com o aprofundamento no tema inovação e intraempreendedorismo, e reflexões sobre o desenvolvimento de competências aplicadas a soluções para projetos de capital desenvolvidos nos últimos trinta anos no mercado de infraestrutura.
Entendemos que toda empresa é um ser vivo, e transforma-se de acordo com sua trajetória. Assim, em 2017, resolvemos reconhecer elementos que já estavam presentas na nossa organização e nos tornamos a Glic Fàs, ou crescimento sábio, uma empresa que busca ser o suporte para agregar valor sustentável para a transformação e inovação do padrão de gestão de negócios no mercado brasileiro.
Créditos imagem: Unsplash por Ines Álvarez
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