A crescente conscientização sobre o futuro do planeta coloca temas como mudança climática e uso sustentável dos recursos naturais nos holofotes. Para as organizações, aumenta a pressão por parte do governo, sociedade, funcionários, acionistas e instituições financeiras.
Nesse cenário, se antes o lucro era o foco, hoje em dia empresas precisam se preocupar também em como fazem negócios. Afinal, cresce o número de clientes e consumidores que se atualizam sobreas práticas ambientais das organizações das quais consomem.
Assim, tornou-se imperativo incorporar a sustentabilidade nas estratégias de negócios e nas justificativas de investimento, com KPIs sociais e ambientais sendo introduzidos. Portanto, não há dúvidas de que existe uma correlação entre ser sustentável e ter boa performance financeira.
Apesar disso, a sustentabilidade é uma ideia difícil de ser aceita pelos CFOs, pois muitos não enxergam a conexão entre conscientização sustentável e sucesso financeiro.
Tensie Whelan e Elyse Douglas, no artigo “How to Talk to Your CFO About Sustainability – Use this tool for measuring the financial return on ESG activities”, publicado na Harvard Business Review, dão duas razões.
A primeira é que para os CFOs a sustentabilidade CFO possui uma linguagem difícil de entender. Enquanto CFOs falam sobre ROI, profissionais de ESG tratam de indicadores como redução de efluentes ou de emissões de gás carbônico. Em outras palavras, a falta de conexão sob as atuais estruturas de gerenciamento, relatórios e contabilidade agrava o problema.
A segunda é a falta de rastreamento adequado dos retornos de investimentos em sustentabilidade por parte da maioria das empresas. Ou, ainda, uma avaliação precária sobre os investimentos no futuro.
Para os autores, entre os motivos dessa omissão estão:
Já que para os CFOs a sustentabilidade não é vista em termos financeiros, Tensie Whelan e Elyse Douglas decidiram mudar essa visão criando a Metodologia ROSI. Como eles explicam, trata-se de um método analítico de Retorno sobre Investimento em Sustentabilidade que as empresas podem usar para medir o retorno financeiro de suas atividades de sustentabilidade.
Segundo os criadores, a metodologia “pode ser implantada para olhar retroativamente para o valor criado por estratégias de sustentabilidade, para rastrear o desempenho financeiro relacionado à sustentabilidade em tempo real e para avaliar o ROI potencial de iniciativas de sustentabilidade futuras tanto no nível da empresa quanto da divisão”.
A metodologia ROSI possui cinco etapas, conforme a seguir:
Se a sustentabilidade é um tema difícil para CFOs entenderem, a culpa não é inteiramente deles. Como explicam Whelan e Douglas, muitas empresas não articulam claramente suas estratégias materiais de sustentabilidade. Como exemplo, eles citam “um programa de logística garantindo que os caminhões estejam totalmente carregados, o que pode ter como objetivo a eficiência, mas também reduz as emissões de gases de efeito estufa da frota”.
A dica que eles dão é que seja criada uma Matriz de Materialidade, que basicamente é a representação gráfica dos temas de sustentabilidade que importam para sua organização. Com a matriz fica mais fácil identificar atividades existentes que tratam de questões de sustentabilidade relevantes, mas não imediatamente óbvias.
Whelan e Douglas observaram que muitas práticas foram implementadas ao longo dos meses ou anos, mas na verdade ninguém na empresa sabe direito o que foi feito ou o que mudou.
Imagine uma empresa que tenha como meta a redução de emissões. O que a administração já fez para atingir as metas? Foram mudados processos? Quais? Obter essa informação é importante para identificar quais práticas que foram ou serão alteradas geraram/gerarão retornos financeiros.
A sugestão dos autores é revisar, em pequenos grupos, ações tomadas em cada área para implementar estratégias de sustentabilidade. “Identifique o máximo de práticas alteradas que puder para cada estratégia, sem levar em conta seu impacto financeiro”, explicam.
O terceiro passo é explorar os benefícios não monetários das estratégias de sustentabilidade e práticas alteradas. Como Whelan e Douglas exemplificam, uma melhor gestão de resíduos, energia e água geralmente melhora a eficiência operacional.
A análise dos benefícios não monetários deve ser minuciosa, pois muitos deles podem não ser óbvios. “Mas, ao criar boa vontade, um esforço robusto de engajamento da comunidade (que se enquadra no fator de mediação das relações com as partes interessadas) pode acelerar a aprovação regulatória e reduzir o tempo necessário para levar os projetos adiante”, sugerem.
Uma vez que os benefícios não monetários foram identificados, é hora de avaliar o valor financeiro (dessa maneira ficará mais fácil falar de sustentabilidade com os CFOs). Para os criadores da Metodologia ROSI, isso pode ser feito comparando uma nova prática com um benchmark estabelecido.
A fim de ilustrar, eles contam que para medir o valor das práticas de pecuária sustentável, uma equipe reuniu dados sobre fatores, incluindo a área reduzida necessária, a mudança no custo do aluguel da terra, a quantidade de carne vendida antes e depois da introdução de práticas sustentáveis e a diferença de preço entre carne convencional e sustentável.
Os autores explicam que cada estratégia ampla é composta de muitas práticas separadas. Totalizando o valor financeiro criado (ou perdido) por cada uma das práticas em uma estratégia, é possível identificar quais estratégias geram mais valor e onde você pode querer concentrar os recursos.
Para que você possa entender, segue um exemplo na prática:
“Coletamos dados em uma empresa automotiva sobre o impacto da redução das emissões de emissões de Compostos Orgânicos Voláteis inclusive melhorando os sistemas de filtração e implementando a reutilização e substituição de solventes descritas acima. Para valorizar os benefícios decorrentes das eficiências de produção, multiplicamos a redução ano a ano do volume de solventes utilizados pelo custo médio do solvente virgem; isso se traduziu em uma economia anual de US $ 72 milhões. Aplicar o mesmo custo do solvente virgem à quantidade de solvente reutilizado revelou uma economia adicional de US $ 8 milhões. E para avaliar o valor do uso de solventes à base de água mais sustentáveis, comparamos o custo unitário dos substitutos com o custo unitário dos solventes virgens tradicionais e multiplicamos a diferença pela quantidade de substitutos usados. O resultado foi uma economia adicional de $ 10 milhões, elevando o total para $ 90 milhões.”
Conversar sobre sustentabilidade com o CFO pode ser uma tarefa difícil pelos fatores que vimos, mas não significa que não se deva fazê-lo. Para quem busca defender a sustentabilidade em suas organizações, algumas outras dicas incluem:
Aproveite e leia também: Sustentabilidade – como assegurar que o board seja um bom exemplo?
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Créditos imagem principal: Unsplash by Mert Guller
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