Geralmente, por querermos fazer as coisas perfeitamente, acabamos não concluindo nada. Sempre existe algo a melhorar, algo a refazer e algo a repensar. Nada está bom, nunca. O problema que muitas vezes deixamos de enxergar é que todo processo tem incertezas e, portanto, a perfeição não existe. E justamente essa busca por algo inexistente torna tudo mais imperfeito ainda e, no final das contas, prejudica nossa produtividade.
Para os perfeccionistas é preciso ter todas as cartas na mesa para que uma jogada possa ser feita. Como isso não acontece no mundo real, eles acabam procrastinando na esperança de ter algo que, na verdade, nunca virá.
Não é à toa que Bill Gates disse: “Eu escolho uma pessoa preguiçosa para fazer um trabalho duro. Porque uma pessoa preguiçosa irá encontrar uma forma fácil de o fazer”.
Essa frase nos mostra que, ao contrário dos perfeccionistas, os tidos como preguiçosos se preocupam com o essencial. Paradoxalmente, eles – os preguiçosos – são mais produtivos. Então, para começar, nossa pergunta é:
Com o objetivo de confirmar o seu valor, uma pessoa perfeccionista tende a trabalhar muito. Para ela, o trabalho precisa estar impecável, pois do contrário terá fracassado. A lógica é: “enquanto esse projeto não estiver como eu quero, ele não sairá daqui”.
Importante ressaltar que o problema não está em trabalhar mais, mas sim em trabalhar mais e não trazer resultados ou demorar muito para concluir algo por achar que sempre falta alguma coisa. Muitas pessoas deixam de começar um negócio, por exemplo, porque esperam que ele esteja perfeito para poder anunciá-lo ao mundo. Elas não acreditam em MVP (ou não conseguem lidar com o Produto Mínimo Viável), porque é inimaginável lançar algo que ainda será testado. E isso, mais uma vez, é um entrave para a produtividade.
Pensando nisso, por que ainda muitos insistem em serem perfeccionistas? Um dos motivos é porque existe o pensamento de que perfeccionismo é sinônimo de trabalhar bem. Mas o fato é que tem muito mais a ver com a incapacidade de estabelecer limites realistas e sensatos em nosso trabalho por medo de nos sentirmos mal. E, como você sabe, sem limites e metas realistas nunca sairemos do lugar.
Em prol do perfeccionismo, podemos tender a negligenciar o que é realmente importante como tarefa para avançar em direção aos objetivos. Mais uma vez, é a produtividade que sofre. Ainda, existem pessoas que sabem que essa busca por atingir algo inexistente não leva a lugar algum. Mas como a tendência ao perfeccionismo é mais forte do que elas, é difícil largar o vício.
Produtividade não é sobre fazer mais, mas sim sobre como as coisas são feitas. É sobre como você faz o que você faz. De acordo com Alice Boyes, PhD e ex-psicóloga clínica que virou escritora e é autora de “The Healthy Mind Toolkit” e “The Anxiety Toolkit”, três aspectos do perfeccionismo podem interferir na capacidade de priorizar as tarefas mais importantes.
Ela fala sobre eles no artigo “Don’t Let Perfection Be the Enemy of Productivity” (Harvard Business Review). A seguir, compartilhamos com você:
Quando uma decisão não é importante, pois ela não interferirá nos resultados, existe um argumento que diz que devemos decidir rapidamente ou terceirizar a decisão.
O problema, segundo a autora, é que perfeccionistas não conseguem classificar decisões como sem importância. Para completar, existe o agravante de que são pessoas que querem estar no controle e resolver tudo sozinhas, afinal, quem mais fará melhor do que elas mesmas?
Essa tendência ao microgerenciamento é um traço muito comum dos perfeccionistas, embora na maioria das vezes eles nem percebam isso. O resultado é que costumam pensar que tudo que aparece é digno de seu esforço total.
Na vida moderna, a fadiga da decisão pode ser intensa e para tentar resolver o problema, Boyes diz que: “um perfeccionista pode aprender a amar abrir mão do controle sobre algumas escolhas se prestar atenção em como é bom ser aliviado do fardo da tomada de decisão”.
Existem também algumas ferramentas que podem ajudar, como a Matriz de Eisenhower. Nela as tarefas são divididas em quatro quadrantes:
Tarefas classificadas como importantes e urgentes devem ser realizadas imediatamente. As importantes, mas com um grau de urgência menor, podem esperar um pouco. As urgentes, mas não importantes, são aquelas que podem ser delegadas a outra pessoa. Por fim, as que não são urgentes e nem importantes são tarefas que podem esperar ou até mesmo ser eliminadas da lista de pendências.
Algo que definitivamente acaba com a produtividade é a crença de que precisamos superar expectativas em todo momento. Um exemplo trazido pela autora é quando a pessoa acredita que 24 horas seja um prazo aceitável para responder a um e-mail. No entanto, por querer parecer mais produtiva, ela sente-se na obrigação de responder em seis horas.
O ponto principal é que perfeccionistas acreditam que seus padrões têm que ser diferentes e que a única maneira de evitar o desapontamento de alguém é sempre superar expectativas. Para mudar o pensamento, a autora sugere que o perfeccionista observe o motivo de estar a todo momento buscando um desempenho superior. Conforme explica Boyes, isso pode ser motivado por ansiedade, insegurança ou síndrome do impostor.
Boyes comenta que quando desejam adotar novos hábitos, perfeccionistas costumam cair em uma das três armadilhas:
A flexibilidade, algo difícil de ser encontrado em perfeccionistas, é uma marca registrada da saúde psicológica. “Você precisa ter capacidade para tirar um dia de folga da academia quando estiver doente ou tiver acabado de sair de um voo atrasado, mesmo que isso signifique quebrar uma sequência”, escreve a autora.
A saída para tentar fugir desse problema é verificar, de tempos em tempos, se a adesão ao hábito é porque ele faz bem, ou porque como perfeccionista você não consegue sair do padrão da autodisciplina, pois acha que isso fará com que sua imagem seja “manchada”.
O perfeccionismo pode retardar a execução de tarefas que são realmente importantes para o progresso em direção aos objetivos (sejam eles profissionais ou pessoais). Como tudo na vida, o problema está sempre nos extremos.
Não ser perfeccionista não significa executar algo de qualquer jeito, empurrar tudo com a barriga ou não honrar compromissos. Pelo contrário: significa buscar pela excelência em tudo que faz, sabendo dar prioridades e entendendo que o processo de melhoria é constante. Em outras palavras: um dia de cada vez, sempre buscando ser (e fazer) melhor que ontem.
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Créditos imagem principal: Pixabay por FlitsArt
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