Se tem uma verdade no mundo empresarial é esta: cedo ou tarde, toda empresa passará por um período de crise. E isso não é algo que deveria pegar executivos de surpresa. Pelo menos, é o que entendemos do resultado de uma pesquisa conduzida pela Quartz Insights, em colaboração com a Brightline Initiative.
Para a extração dos dados, mais de 1.200 líderes globais seniores e executivos do governo, organizações sem fins lucrativos e do setor privado, foram entrevistados sobre decisões de gestão e pontos fortes organizacionais durante e após eventos de crise.
De acordo com o resultado da pesquisa, disponível no relatório “Learning from Crisis Mode: Implications for Better Strategy Implementation”, a experiência da crise é comum. Diz o texto: “68% dos entrevistados concordam com a inevitabilidade de suas organizações diante de uma crise no futuro”.
Bom, mas o fato é que, apesar de ela ser inevitável, nem todas as organizações conseguirão extrair aprendizado com as crises. Em alguns casos, quando mal gerenciada, a crise pode ser sinônimo de fim das atividades.
Dois casos clássicos de companhias que não conseguiram extrair aprendizado com as crises: Kodak e Blockbuster.
A Kodak chegou a ser dona de 90% de filmes fotográficos e de 80% da venda das câmeras na década de 70. No mesmo período ela inventou a câmera digital, mostrando-se inovadora.
Acontece que, com a previsão de que a câmera digital prejudicaria a venda de seus filmes, a tecnologia foi deixada de lado pela empresa. Sua falta de visão estratégica resultou em não enxergar que uma hora ou outra seus concorrentes passariam a desenvolver câmeras digitais.
A empresa faliu em 2012, em uma crise de imagem que não conseguiu reverter, deixando uma lição preciosa: é preciso acompanhar a inovação.
Outro exemplo de falha em conseguir tirar aprendizado com as crises, a Blockbuster era a maior franquia de locadora de filmes. Muitos não sabem, mas no ano 2000 eles tiveram a oportunidade de comprar a Netflix.
Mais uma vez, a falta de visão estratégica foi a causadora da falência da empresa, que ao invés de realizar o investimento, ou até inovar, preferiu focar suas energias em ser a melhor varejista. Após tentar por anos e não conseguir superar a crise financeira, em 2013 veio a falir.
Uma crise pode surgir a partir de um problema de imagem corporativa, falha de um lote de produtos, falta de inovação, fraca liderança, questões econômicas, enfim, são inúmeras as possibilidades.
Todavia, face à crise, seja ela pelo motivo que for, uma empresa não pode continuar agir como se nada tivesse acontecido. Ou seja, ela precisa reagir.
Conforme o relatório, dos 68% dos entrevistados que concordaram que a crise é inevitável, 93% disseram que suas organizações entraram no modo “em crise”.
Por modo “em crise” entendemos um estado de alta atenção e mudanças nas prioridades a fim de gerenciar situações desafiadoras e, muitas vezes, ameaçadoras. Trata-se de um estado no qual a empresa passa por transformações a fim de superar as adversidades.
Ao reconhecer o modo “em crise”, a organização dá o primeiro passo para analisar suas operações e realizar mudanças. Mais uma vez, ela busca por uma reação para vencer este momento.
E não para por aí, uma vez que a empresa que reage consegue obter aprendizado com as crises, incorporando as lições aprendidas em sua própria estratégia.
Empresas que não conseguem extrair aprendizado com as crises perdem importantes oportunidades de melhoria. Por exemplo, o relatório da Brightline Initiative menciona que para 71% dos entrevistados a crise trouxe um entendimento mais claro das prioridades da organização.
Quando colaboradores caminham juntos, você já sabe: aumentam as chances de sucesso. Dos entrevistados, 75% concordaram que, para enfrentar a crise, as pessoas se uniram com um grande objetivo em direção a uma meta compartilhada. Desses, 80% falaram que após enfrentá-la a organização passou a ser mais forte do que antes.
Seguindo com os resultados da pesquisa, 78% das pessoas relataram que as capacidades de implementação de estratégias ficaram mais fortes como resultado da crise. Essa descoberta é ainda mais impressionante, considerando que mais da metade desse grupo (59%) disse ter superado crises que ameaçavam inclusive a existência de suas organizações.
Além da priorização de iniciativas estratégicas, o estudo constatou que empresas que operaram no modo “em crise” obtiveram agilidade na tomada de decisões, melhora na execução de processos e mais capacitação de equipes.
Para obter aprendizado com as crises é preciso saber gerenciá-las. Como a crise é inevitável, toda empresa deve contar com um plano de crise. Como parte do processo de planejamento, alguns pontos devem ser considerados:
De modo a determinar o possível impacto de uma crise nos seus negócios, uma sugestão é desenhar os piores cenários possíveis. Em seguida, analise como cada um desses cenários pode ser prejudicial para os negócios, e como suas operações podem ser afetadas.
Nessa etapa, olhe para os riscos partindo da perspectiva de seus clientes. É essencial considerar como eles seriam impactados por cada potencial evento. Eles provavelmente procurariam fornecedores alternativos?
Quando tiver definido as crises com probabilidade de ocorrência, elabore um plano, verificando se o mesmo cobre cada um dos riscos.
Nenhuma empresa é à prova de crise. Não importa o tamanho, toda organização pode ser suscetível a uma crise ou momentos de emergências.
Quando malsucedido, o gerenciamento de uma crise pode prejudicar a reputação da empresa a tal ponto que ela pode falir. Por outro lado, se bem gerenciada, é possível extrair ganhos para a continuidade das operações.
Neste artigo, procuramos mostrar como o aprendizado com as crises ajudou organizações a superarem as adversidades que o momento trouxe. Então, respondendo à pergunta do título, operar “em crise” pode afetar o negócio positivamente se ele estiver preparado para adotar estratégias a fim de superar os desafios do momento.
Os dados que apresentamos foram extraídos do relatório “Learning from Crisis Mode: Implications for Better Strategy Implementation”, que você pode acessar aqui.
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Créditos imagem: Unsplash por You X Ventures
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