Medida adotada por uma boa parte das empresas nos primeiros meses da crise sanitária global, o home office passou a ser objeto de discussão. Na pauta, empreendedores, gestores e diretores começaram a questionar a segurança e a produtividade desta que, para muitas organizações, se transformou na nova forma de trabalho.
Desde então, aprendemos que a confiança no trabalho remoto é essencial para que ele funcione. Nas palavras de Kerman Kasad (PMI Institute), “a confiança cria a honestidade, clareza e transparência de que as empresas precisam para prosperar em um novo ambiente de trabalho virtual focado na transformação digital”.
No papel tudo soa muito bem. No entanto, sabemos que se trata de uma grande reviravolta para muitos líderes, já que muitos não sabem como agir ou se estão agindo de modo correto. E muitos ainda não conseguem confiar – o que pode ser prejudicial.
A relação entre empresa e seus profissionais é amplamente estudada. Algo que especialistas no assunto são unânimes em afirmar é que, como em qualquer relação humana, a confiança é a base da relação profissional.
Empresas cuja cultura corporativa têm a confiança em seu DNA já possuem uma gestão diferente daquelas que adotam a microgestão, por exemplo. Infelizmente, ainda vemos organizações de vários portes e setores que preferem controlar de perto cada ação de seus funcionários e não dão a eles a autonomia necessária, inclusive quando trabalham presencialmente.
E se uma empresa já não confia em seus funcionários no ambiente presencial, como esperar que ela irá fazê-lo virtualmente? Considerando que a confiança aumenta a lealdade e a vontade de continuar na empresa, quebra silos corporativos, diminui os níveis de estresse e hostilidade, supera a resistência à mudança e torna o negócio mais produtivo, no trabalho remoto ela é ainda mais necessária.
Portanto, citando Kasad “uma força de trabalho conectada por confiança se beneficiará de maior agilidade, flexibilidade e moral da equipe aprimorada. Quando há confiança, o progresso dispara e as empresas avançam mais rapidamente em suas jornadas de transformação digital”.
Dentre tantas mudanças que vivenciamos, para o mundo corporativo o home office talvez tenha sido a maior delas. Se por um lado empresas decidiram adotar o modelo como regra, por outro há quem questione como conquistar/manter a confiança no trabalho remoto.
O fato é que sem o engajamento de ambas as partes, isto é, líderes e seus liderados, e empresa e suas equipes, será difícil estabelecer uma relação tranquila. Basta olharmos pelo lado dos colaboradores. Ao se sentirem controlados, o distanciamento apenas reforça a desconfiança. Inevitavelmente, teremos, assim, um caso de fracasso do trabalho remoto.
O sentimento de opressão que sentem quando são microgerenciados faz com que tenham a reação oposta à desejada pelos seus líderes. Ou seja, os colaboradores desconfiam deles. Como consequência, por se sentirem sob controle, eles tentam escapar da vigilância e não conseguem produzir da maneira que faziam presencialmente.
O problema é que, se a confiança no trabalho é recíproca, o mesmo ocorre com a desconfiança: assim como os funcionários desconfiam da supervisão de seus gestores, estes desconfiam de seus liderados. Em outras palavras, uma ação leva à outra e, quando nos damos conta, estamos criando uma bola de neve.
Com o que foi abordado, é fundamental termos em mente que a confiança gera confiança. Em qualquer relação humana, tudo começa com um primeiro passo. Nas empresas, ele deve ser dado pelos seus gestores.
Todavia, o home office cria uma dificuldade adicional, uma vez que o estabelecimento da confiança acontece com base na troca de informações e nas emoções sentidas simultaneamente. Mas como fazer isso se toda a interação ocorre virtualmente e se os modos de comunicação impostos pela distância têm maiores chances de enfraquecer a experiência emocional?
Esse é o motivo pelo qual a comunicação é um fator-chave para obter confiança no trabalho remoto. Sobre isso, é importante que líderes e liderados cooperem para garantir o equilíbrio relacional. Reuniões de feedback e um trabalho com o Gestão de Pessoas são fundamentais. Juntas, essas duas ações, além de facilitar o diálogo conseguem detectar antecipadamente conflitos e dificuldades profissionais ou até mesmo psicossociais.
Já que por um lado o gestor tem que encontrar a combinação certa para controlar a atividade, e por outro o funcionário não deve confundir independência com autonomia, se mostrar presente – mesmo que virtualmente – fará toda a diferença na relação. Por exemplo, em seu artigo Kasad conta que o PMI instituiu o coffee break virtual e semanal, bem como atualizações diárias, mensais e trimestrais da liderança e dos funcionários em todos os níveis.
Além do contato periódico com o time, a confiança no trabalho remoto requer que os gestores aprendam a “soltar” e entendam os limites entre profissional e privado. É aí que entra também o direto à desconexão, o qual é um ponto importante na relação virtual.
Significa que o empregador precisa igualmente zelar pelo tempo em que seus colaboradores se desligam, fora do horário de trabalho, das ferramentas digitais profissionais. Aliás, a inclusão do direito ao desligamento permite mitigar eventuais dificuldades – como tensões relacionais, stress, burnout etc., e faz todo o sentido com a prática do trabalho à distância.
Isso porque o risco de problemas aumenta quando o funcionário está imerso no trabalho em casa, isolado dos colegas e sem ter controle sobre o ambiente. É imprescindível, então, apoiar o colaborador por meio de inúmeros pontos de contato (aqui entra a questão da comunicação) e de um relacionamento baseado no respeito.
Pensar em home office vai muito além de apenas verificar se a empresa possui a tecnologia necessária para adotá-lo. Como o próprio Kasad escreve em seu texto, na perseguição por estarmos em dia com as novidades tecnológicas, nos esquecemos que quem impulsiona a mudança e o avanço são as pessoas.
Fornecer os equipamentos ideais e garantir que seus colaboradores tenham boas condições de trabalhar remotamente é indispensável. Contudo, sem a confiança no trabalho remoto os melhores computadores, os softwares mais modernos e as cadeiras mais confortáveis não trarão resultados.
Pensando assim, quem sabe não esteja na hora de reverter o ciclo de desconfiança e transformá-lo em um círculo virtuoso em torno da confiança? Confiança na prática de teletrabalho e, claro, confiança nos seus colaboradores.
Este post foi útil? Compartilhe-o com seus colegas. Para mais conteúdo como este, e para ficar por dentro de boas práticas da gestão de negócios, visite o Glicando, o blog da Glic Fàs.
Créditos imagem principal: Pixabay por Gerd Altmann.
Créditos imagem texto: Unsplash por Chris Montgomery.
O ESG no C-level muitas vezes acaba ficando apenas dentro do cumprimento legal. O que…
Veja como o PMO atual pode ser mais estratégico e adequar-se à era de mudanças…
Veja como está a transformação digital nas empresas latino-americanas e o que fazer para priorizar…
Neste artigo, apresentamos os atributos de empresas resilientes e mostramos o que sua organização pode…
Em 1945, o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill disse a célebre frase: “Nunca desperdice uma boa…
Muito provavelmente você já deve ter se deparado com textos falando sobre como reduzir a…