Em 2019 a PwC divulgou pesquisa sobre rotatividade do CEO. O estudo referiu-se ao ano anterior, 2018, e concluiu que o turnover dos CEOs das 2500 maiores empresas do mundo atingiu a casa dos 17,5%. O resultado ficou 3 pontos percentuais acima da taxa de 14,5% em 2017, e acima do que vinha sendo a norma na última década. No Brasil, na Rússia e na Índia, a rotatividade cresceu 21,6% também em 2018.
Outra constatação da pesquisa foi o motivo que levou à saída forçada dos chefes executivos das empresas. Desde que o estudo começou a ser conduzido, em 2000, mais CEOs foram demitidos por lapsos éticos do que por desempenho financeiro ou problemas do conselho.
Em 2019, Disney, McDonald’s, IBM, Salesforce, UberEats, e outras, tiveram trocas de seus CEOs. Ao todo, as 1600 saídas de Chief Executive Officer ocorridas em 2019 ficaram registradas como recordes de todos os tempos em um único ano. É o que conta a Risk Management em artigo sobre rotatividade do CEO e gestão de crise.
O turnover segue em 2020. Em abril, no caos da pandemia do Covid-19, o grupo Latam Airlines teve nova liderança após 25 anos. O bastão passou de Enrique Cueto para o mexicano Roberto Alvo, que era vice-presidente comercial da empresa.
O mesmo aconteceu com a CVC. Possíveis erros contábeis no balanço dos últimos cinco anos, somados à pressão do coronavírus e às perdas com Avianca Brasil, fizeram Luiz Fernando Fogaça, até então presidente e CEO da CVC Corp., renunciar. Em seu lugar entrou Leonel Andrade, ex-Smiles e Credicard.
Continuando no Brasil, no ano anterior, em 2019, a TIM Brasil anunciou a troca de seu CEO no país. O novo líder passou a ser Pietro Labriola. Exemplos assim continuam e a pergunta é:
Às vezes, quando um CEO sai tudo ocorre bem. Um exemplo é a Apple. Quando o lendário fundador, Steve Jobs, deixou o cargo por motivos de saúde, muitos acharam difícil que Tim Cook conseguisse continuar conduzindo a empresa com o mesmo sucesso. No entanto, o sucessor de Jobs fez sua lição de casa e – pelo menos até o momento que este artigo está sendo escrito – tem se saído bem.
Além do exemplo da Apple, temos o da Starbucks, cujo fundador e CEO Howard Schultz foi sucedido em 2017 por Kevin Johnson, ex-presidente e diretor de operações. A mudança também não tem causado problemas.
Infelizmente, a história registra que o contrário pode ocorrer, isto é, a transição acabar em um desastre. Um exemplo é o que aconteceu com a General Electric em 2017. Após 17 anos no comando Jeffrey Immelt foi substituído pelo seu sucessor, o antigo executivo da GE John Flannery.
Flannery lançou um plano com o objetivo de mudar o conglomerado. A ideia deu errado e, em meio a resultados financeiros nada atrativos e divulgações negativas, a decisão do conselho foi por sua substituição. Apenas quatorze meses depois de ter assumido o cargo, Lawrence “Larry” Culp foi o primeiro contratado como CEO nos 126 anos de história da GE.
Como é de imaginar, quando um CEO tem um bom desempenho por um longo período é difícil pensar em mudança. Por outro lado, se pensarmos que a maioria dos líderes fica obsoleto em algum momento, a mudança pode até ser considerada questão de estratégia.
Sem dúvidas, as tecnologias digitais e a rápida disseminação da informação contribuem para que CEOs de longa data tenham que lidar com um contexto significativamente diferente daquele que vivenciaram logo no início do cargo.
Como escreveram Per-Ola Karlsson, Martha Turner e Peter Gassmann em um artigo comentando a pesquisa da PwC sobre rotatividade do CEO, os membros do conselho devem pensar cuidadosamente sobre o momento certo de trocar um CEO de longa data por um novo candidato – especialmente nos casos em que o desempenho do executivo chefe em exercício é bom.
“Novo sangue traz energia e talvez uma nova perspectiva sobre como conduzir os negócios. (…) Os conselhos precisam avaliar continuamente se a pessoa sentada na cadeira superior da empresa está à altura da tarefa à medida que as condições mudam”, opinam.
Quando um CEO assume o cargo de um chefe executivo de longa permanência é importante que o conselho deixe claro que o novo líder tem seu apoio. Conforme segue o artigo, os conselheiros também devem considerar se o melhor candidato para suceder a um CEO já com anos na posição pode ser alguém de fora, e não de dentro.
Algo interessante apontado pela pesquisa da PwC é que, quando examinado o desempenho dos CEOs que estavam deixando o cargo nos últimos seis anos, os executivos de fora que os substituíram superaram os que foram promovidos ao cargo internamente.
Nas palavras de Karlsson, Turner e Gassmann: “uma hipótese para esse diferencial é que, no atual clima de interrupção, avanços tecnológicos e dinâmicas competitivas em mudança, os candidatos mais eficazes podem ser aqueles cujas origens, perspectivas e conjuntos de habilidades são diferentes daqueles possuídos pelos candidatos internos”.
Talvez, assim como é importante a diversidade no board, seja igualmente relevante que as empresas tenham CEOs com experiências em outros mercados/indústrias e em culturas empresariais diferentes da existente na companhia que ele passará a liderar.
Embora a saída de um CEO possa ser motivada por uma crise, a rotatividade do CEO não significa que a empresa esteja necessariamente atravessando uma. No entanto, a transição em si pode acabar desencadeando uma crise.
Mesmo que não seja algo exigido por lei, é indicado que a saída do executivo seja explicada aos acionistas. Logicamente, especialmente tratando de grandes corporações, a imprensa e a comunidade em geral quer saber o que está acontecendo. Franqueza deve ser a palavra da vez.
Um exemplo de uma conduta transparente vem do Mc Donald’s. Em novembro de 2019 a empresa relatou que Steven Easterbrook seria demitido do cargo de CEO por se relacionar com um funcionário. Ele estava na posição desde 2015.
A conduta de Easterbrook, segundo o Mc Donalds, foi de “falta de juízo”, uma vez que a empresa proíbe que os cargos mais altos se relacionem com outros funcionários. O novo CEO, Chris Kempczinski, entrou com a missão de resgatar uma cultura mais profissional no McDonald’s.
A curto prazo, a estratégia de comunicação do McDonald’s levou a algumas revelações não muito positivas, com denúncias de funcionários. No entanto, a transparência permitiu que fossem lançados novos pilares para uma narrativa positiva sobre a mudança cultural.
Tendo uma atitude diferente, a Lam Research afirmou que o CEO Martin Anstice havia renunciado devido a “má conduta no local de trabalho e conduta inconsistente com os principais valores da empresa”. Sem mais explicações, treze meses depois do fato, a demissão ainda estava sendo abordada em várias publicações e ligada ao movimento #MeToo.
Esses exemplos estão no artigo da Risk Management, que nos deixa uma lição valiosa: apesar de poder ser doloroso no curto prazo, abordar notícias negativas de forma transparente oferece às empresas a oportunidade de superar essas dificuldades de maneira mais rápida e saudável.
Assim como cada crise, cada saída de CEO é única. Desse modo, cada transição requer uma abordagem única. O importante é termos em mente que a transparência e honestidade devem vir em primeiro lugar. Portanto, quando chegar a hora do chefe executivo sair, garanta que a empresa esteja preparada para dar todas as respostas aos stakeholders.
E você, o que pensa sobre o tema? Como avalia as últimas saídas de CEOs? Deixe um comentário e compartilhe conosco sua opinião. Para mais artigos sobre o universo corporativo, não deixe de acessar o Glicando, blog da Glic Fàs.
Créditos imagem principal: Unsplash por Razvan Chisu
Créditos imagem no texto: Unsplash por Austin Distel
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