No início de 2001, a gigante companhia norte-americana do setor de energia, Enron, se viu envolvida em diversas denúncias de fraudes fiscais e contábeis, o que a levou à falência. No entanto, o que fez o escândalo ficar ainda maior foi o fato de que outra gigante, dessa vez da área de auditoria, a Arthur Andersen (que auditava a Enron), também foi derrubada.
Toda essa confusão nas transações contábeis mudou o mundo da contabilidade para sempre. Em julho de 2002, o Congresso dos Estados Unidos sancionou a Lei de Reforma da Contabilidade das Empresas Públicas e Proteção dos Investidores, conhecida como Lei Sarbanes Oxley, ou SOx. O objetivo do ato foi o de proteger investidores e demais stakeholders dos erros das escriturações contábeis e práticas fraudulentas, reduzindo os riscos nos negócios e garantindo a transparência na gestão.
O acontecimento foi um marco e veio a somar com o COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission). Fundado em 1985, o Comitê fornece liderança de pensamento através do desenvolvimento de estruturas, bem como orientação sobre gerenciamento de risco corporativo, controle interno e dissuasão de fraude. Todo esse contexto fez surgir diversas empresas de consultoria especialmente focadas em fornecer instrumentos para ajudarem no controle dos processos de gestão, mirando mais especificamente na Gestão de Riscos.
A palavra “risco” tem sua origem no latim – risicum ou riscum – e sua definição envolve o conceito de ousar – riscare. Dado que o risco é inerente a qualquer atividade empresarial, cabe às organizações o gerenciarem a fim de assumir riscos calculados, reduzir a volatilidade dos seus resultados, aumentar a previsibilidade de suas atividades e se tornar mais resilientes em cenários extremos.
Para explicar o fato de que toda organização está exposta aos riscos, existe o termo Apetite ao Risco, que nada mais é do que a quantidade e o tipo de risco que uma organização está disposta a tolerar, sem que precise realizar alguma ação contra esse risco. Em outras palavras, o apetite ao risco permite que as organizações determinem a disponibilidade em assumir riscos para inovar na busca de objetivos estratégicos, táticos e organizacionais.
Experimente mencionar a palavra “risco” em uma reunião para executivos e você verá que, provavelmente, a reação imediata será de preocupação. Na verdade, para muitos, a palavra “risco” tem uma conotação negativa. Contudo, um risco não é necessariamente algo ruim, pois o mesmo pode ser tanto uma ameaça quanto uma oportunidade, podendo inclusive tornar a empresa mais eficiente ou oferecer uma vantagem competitiva.
Por exemplo, imagine uma organização que esteja perdendo clientes – e a participação de mercado – para sua concorrente que passou a trabalhar com embalagens feitas de produtos recicláveis. A fim de mitigar o risco e manter (ou até aumentar) o market share, a empresa resolve conduzir uma pesquisa de mercado. O resultado do estudo mostra que um número suficiente de consumidores estaria disposto a pagar 15% a mais por produtos sustentáveis. Essa porcentagem, além de cobrir novos custos, aumenta a margem de lucro da linha de produtos.
Perceba que nesse simples exemplo, de ameaça o risco transformou-se em oportunidade. Claro que isso não significa que a Gestão de Riscos deva ser levada com leviandade, pois, conforme mencionado aqui, um risco pode impedir uma organização de atingir seus objetivos.
Em uma empresa, os processos em diferentes instâncias (estratégico, tático ou operacional) são similares, apesar de algumas nuances de jargões, normas ou regulações diferentes. Na Gestão de Riscos existem alguns passos a serem seguidos, os quais são complementares e essenciais. Isso significa que não basta apenas identificar riscos e criar planos de ação. Muitas organizações, aliás, falham nos estágios de monitoramento e controle de riscos, bem como na execução propriamente dita dos planos de ação.
Empresas precisam ter em mente que o fator chave para gerenciar os riscos é realizar análises cautelosas, a fim de determinar potenciais oportunidades das quais o negócio pode se beneficiar (e ameaças que precisa mitigar ou eliminar). Percebemos que muitas empresas de consultoria apresentam receitas prontas, impondo controles de processo que ocasionam custos maiores que os impactos dos riscos que eventualmente podem acontecer. Ou, o que é pior, deixando de ressaltar as oportunidades que podem surgir como resultado desses riscos.
Todavia, a dificuldade de enxergar um risco como uma oportunidade não é falha de poucos. A Revista Forbes, em nome da Deloitte, divulgou o relatório Taking Aim at Value: Avoid Overconfidence and Look Again at Risk no qual traz o resultado de uma pesquisa realizada com mais de 300 stakeholders seniors.
De acordo com o estudo, nove em cada 10 reconhecem que o gerenciamento de riscos deve se concentrar na criação de valor, ou seja, na oportunidade do risco. No entanto, de cada cinco executivos menos de um está tomando medidas suficientes a este respeito.
Como você pode ver, mover-se para além da visão tradicional do risco como ameaça para enxergá-lo como potencializador de valor, ainda não é algo natural. Especialmente em um mundo cada vez mais complexo, não podemos nos esquecer que riscos representam ameaças, no entanto, também oferecem oportunidades para novas vantagens competitivas.
Tanto para obter esses benefícios, quanto para mitigar ou eliminar as ameaças, os riscos devem ser avaliados e tratados dentro de um sistema que identifica, quantifica, monitora e os controla, além de claro, executa planos de ação. Por fim, lembre-se que medidas aplicadas para gerenciar riscos contribuirão para destacar grandes oportunidades de inovação em empresas que têm uma gestão preparada para aproveitá-las.
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