Você tem uma empresa familiar, portanto, sabe que entrar na esfera da sucessão é crucial para que o negócio possa seguir para outra geração. Já que você está preocupado com quem será o dono do negócio, é natural pensar, imediatamente, no seu herdeiro.
Acontece que nem todo herdeiro possui vocação para liderar uma empresa, bem como não é todo herdeiro que tem vontade para trabalhar no negócio familiar. Nesse caso, como o empreendedor preocupado com o plano sucessório consegue identificar sinais de que o herdeiro não quer dar sequência ao legado?
Para isso, temos que iniciar falando sobre herdeiro e sucessor.
Qual a diferença entre herdeiro e sucessor? A explicação é simples: herdeiro é quem tem direito a algo por ligação sanguínea ou que recebe uma doação por testamento ou em vida. Antes de seguir, é importante abordarmos a questão dos laços sanguíneos.
Como comentamos no post Negócio Familiar: muito mais do que apenas laços de sangue, uma empresa familiar não necessariamente é composta de ligação sanguínea, pois o controle do negócio pode estar nas mãos de um marido e uma esposa, por exemplo. Com herdeiro acontece mais ou menos a mesma coisa, já que o papel pode ser assumido tanto por alguém que possui laços de sangue com o empreendedor, quanto por outro membro da família que recebe o papel por testamento ou durante a transição da empresa pelo próprio dono.
Já quando falamos de sucessor estamos tratando de alguém escolhido para gerar o negócio. Essa pessoa pode ou não ser o herdeiro. Para exemplificar a explicação de herdeiro e sucessor, utilizaremos a analogia descrita por Fernando de Cesare Kolya neste artigo. No texto ele compara o herdeiro com o dono da bola e o sucessor com o dono do jogo.
Funciona assim: o dono da bola é quem terá o direito de definir qual jogo será jogado. Já o dono do jogo é o responsável pelas táticas, pelos jogadores e pelo resultado da partida em si.
Nessa comparação, observe que é muito mais trabalhoso preparar o dono do jogo do que o dono da bola, pois o primeiro terá que conhecer como funciona o jogo em todas as suas nuances, além de conhecer cada jogador e saber como encaixar suas habilidades nas posições certas. Isso significa que preparar o dono do jogo – isto é, o sucessor, – requer muito tempo de treino.
Portanto, o fato de uma pessoa ser herdeira de uma empresa familiar significa que um dia ela poderá ser a dona da bola, mas não quer dizer que ela terá capacidade para ser dona do jogo.
Quando o dono da empresa familiar toma ciência de que precisa pensar no planejamento sucessório, ele deve definir quem assumirá o negócio. Na maioria dos casos, a primeira alternativa é pensar no herdeiro. Acontece que esse herdeiro, que é o dono da bola, pode não querer ser o dono do jogo.
A conta aqui é simples: para que o plano de sucessão familiar seja bem feito, é preciso entender que é essencial que o herdeiro queira assumir o jogo. De nada adianta ter a bola nas mãos (ou nos pés) se não existe uma tática e se não se sabe exatamente o que cada pessoa participante do jogo precisa fazer. Se isso acontecer, com toda certeza a partida terá resultados catastróficos para o dono da bola.
A resposta é óbvia: observando os sinais. Em primeiro lugar, a pessoa tem que se identificar com o ramo de atuação da empresa. Em segundo, ela deve ter vontade de assumir uma posição não apenas de liderança, mas também de condutor dos negócios.
Como falamos em diversas outras oportunidades no Glicando, uma empresa familiar é como qualquer negócio, ou seja, precisa ser gerenciada com profissionalismo. Isso significa que a pessoa deve ser a dona da bola e dona do jogo, ou seja, deve estar qualificada para montar equipes, tomar decisões que direcionem a empresa para o melhor caminho e, claro, para liderar.
Voltando à analogia, acompanhe o raciocínio: no esporte, temos exemplos de bons jogadores que não viraram bons técnicos. Isso porque eles eram muito bons tecnicamente em quadra, mas não sabiam organizar suas equipes e definir táticas. O mesmo ocorre com herdeiro e sucessor.
Muitas vezes o herdeiro entende tudo do negócio e, inclusive, é muito bom atuando em sua posição na empresa. Todavia, ele não tem as competências necessárias para gerenciar uma organização de maneira que os resultados alavanquem. Nesses casos, assim como um time pode ser rebaixado, uma empresa pode chegar à mortalidade.
Claro que isso não significa que o herdeiro não possa ser o sucessor. Se ele demonstra interesse e entende do negócio, é possível capacitá-lo para assumir a sucessão. Bom, mas se entre herdeiro e sucessor temos que o primeiro não quer fazer parte da sucessão e demonstra sinais dessa oposição, o que fazer?
Pensamento estratégico é a chave para essa questão. Apenas para contextualizar, o pensamento estratégico trata de enxergar as possibilidades da empresa para o futuro, explorando incertezas do amanhã e preparando estratégias de longo prazo.
Um empreendedor deve ter em mente que trabalhar com a questão de herdeiro e sucessor é pensar em longo prazo. Se deixar a sucessão para ser resolvida em uma última hora, há o risco de o herdeiro não estar preparado ou de não querer nem assumir e acabará sendo obrigado a isso. O pensamento estratégico é essencial, pois essa visão de futuro garantirá que a empresa estará em mãos profissionais e qualificadas.
Se um herdeiro não for assumir, existe a possibilidade de passar a gestão da empresa para outro profissional que não necessariamente seja um membro familiar. Nessas situações, o herdeiro pode fazer parte do conselho administrativo, ou possuir uma maior cota de ações, mas não estará à frente da liderança do negócio.
Como vimos, a principal diferença entre herdeiro e sucessor é:
O que procuramos mostrar aqui é que para garantir a sobrevivência do negócio, um sucessor não precisa ser herdeiro, mas um herdeiro precisa querer ser um sucessor.
Uma empresa é familiar quando dois ou mais membros de uma mesma família estão envolvidos e o controle está dentro dessa família. Isso quer dizer que para uma organização continuar sendo familiar ela não precisa ser diretamente gerenciada por um membro da família. Em outras palavras: não ter o herdeiro assumindo a posição de diretor ou CEO não significa o fim de um legado. Mas, com toda certeza, o fim chegará se o empreendedor não conseguir identificar a diferença entre herdeiro e sucessor.
Esperamos que este artigo tenha sido útil e que a partir de agora você possa trabalhar melhor com a questão de herdeiro e sucessor. Caso tenha alguma dúvida, queira saber mais sobre o tema ou precise definir o plano sucessório, deixe um comentário ou entre em contato. E se este artigo foi útil para você, fique à vontade para compartilhá-lo com seus colegas.
Créditos imagem: Pixabay por ArtsyBee
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Poderiam ter também colocado a questão sobre com quem ficará o lucro, haha vista q se o herdeiro for sucessor, se este precisará repartir lucro com herdeiros, ao menos pelo tempo que aproveitar dos clientes pré constituídos pelo falecido.
Esta questão tem abordagens distintas em diferentes tipos de empresa, por isso não foi citada, pois depende do tipo de empresa, do tipo de acordo social prevalente, de muitas variáveis que ultrapassavam o objetivo da publicação.
Obrigada pelo comentário.