“Nos próximos cinco anos, é provável que aconteça a maior transferência de riqueza entre gerações já vista na história da economia moderna. Grande parte dessa riqueza assumirá a forma de ações em empresas familiares. Por essa razão, uma abordagem mais sólida de planejamento sucessório é uma prioridade-chave para todo o segmento de empresas familiares – e para as economias que elas ajudam a sustentar.”
O parágrafo foi extraído de uma pesquisa sobre empresas familiares conduzida pela PwC em 2016 e divulgada em 2017. De acordo com o estudo – realizado em 50 países com os maiores tomadores de decisão de organizações familiares cujo faturamento vai de US$ 5 milhões a US$ 1 bilhão – 67% dos participantes no Brasil e 77% no mundo acreditam que seus negócios ajudam a estabilizar a economia.
A PwC também concluiu que 43% das empresas familiares entrevistadas não têm plano de sucessão, sendo que apenas 12% consegue chegar à terceira geração. Se você é leitor do blog da Glic Fàs já sabe o quanto batemos na tecla da importância do planejamento sucessório em negócios familiares, especialmente para garantir a perenidade do negócio.
Ao tratarmos da sucessão, é ainda comum pensarmos exclusivamente no sucessor homem como a pessoa que assumirá o comando dos negócios, mesmo quando ele não tem interesse ou competências para abraçar o cargo e a empresa. Em pleno século XXI, já passou da hora de colocarmos mulheres e homens no mesmo nível de interesse e análise de competências para o processo de sucessão.
A mobilização feminina por justiça começou no século passado, na década de 50, mas somente há poucos anos passamos a ver mulheres despontando na sucessão de empresas familiares. Por exemplo, Elena Ford, tataraneta de Henry Ford (o fundador da Ford Motor Company em 1903), foi a primeira mulher da família Ford a ocupar um cargo de alto comando na companhia, sendo eleita como vice-presidente em 2013.
No Brasil temos exemplos de sucesso quando o assunto é sucessão das mulheres nas empresas familiares. Um deles vem de Luiza Trajano, da rede de lojas Magazine Luiza. A loja foi fundada em 1957 pelos tios de Luiza, mas foi nas mãos da atual CEO que o empreendimento saiu do interior de São Paulo e ganhou o Brasil.
Luiza Trajano assumiu o comando da companhia em 1991. Seu trabalho na direção, especialmente os resultados conquistados, provenientes de uma gestão profissionalizada, a colocaram como uma das mulheres mais influentes do Brasil em 2004, de acordo com a Revista Forbes.
Ainda sobre exemplo de mulheres nas empresas familiares, o DNA feminino garantiu a transformação da Dudalina. Foi na gestão de Sônia Regina Hess, sexta filha do casal de fundadores, que a empresa passou a ser conhecida no país pela sua linha de alto padrão de camisas femininas.
A Dudalina foi fundada em 1957, na cidade de Luís Alves, SC, por Duda Hess de Souza e Adelina Clara Hess de Souza. Sônia assumiu o comando da empresa em 2003 e ocupou o cargo de CEO até 2015. Pelas suas mãos, a Dudalina transformou-se em uma marca de moda, passando a ser a maior camisaria da América Latina.
A EY realizou uma pesquisa com 525 empresas familiares do mundo, incluindo o Brasil. O estudo cita que:
“Existe uma grande quantidade de pesquisas para demonstrar que ter mulheres em cargos estratégicos e de liderança faz sentido econômico para as empresas. Tem sido demonstrado de forma consistente em vários estudos que mais mulheres na liderança significam melhor desempenho financeiro e geral.”
O estudo aponta algumas características observadas quando o assunto é mulheres nas empresas familiares. Talvez o que mereça maior destaque seja o pensamento em longo prazo. Como comentamos inclusive em outro artigo da Glic Fàs, a visão de longo prazo é uma vantagem de empresas familiares. Mulheres tendem a priorizar a sustentabilidade e o crescimento de longo prazo em detrimento de ganhos de curto prazo, enquanto homens costumam ser mais imediatistas.
Foi observado também que mulheres nas empresas familiares apoiam a inclusão no negócio, pois elas mesmas um dia não se sentiram incluídas. Negócios familiares devem equilibrar os interesses da família com as necessidades do negócio, enfatizando a coesão, a inclusão e o compromisso com o bem-estar e a riqueza da família e da empresa. Resumindo, as pessoas – e não apenas os lucros – são importantes. São estes pensamentos de coesão, inclusão e equilíbrio que mulheres nas empresas familiares são mais propensas a levarem para o comando de seus negócios.
Outro ponto interessante observado pela EY, é que mulheres no comando são associadas com melhor desempenho corporativo. Segundo o estudo: “empresas com mais mulheres na liderança aumentam o foco em governança corporativa, responsabilidade corporativa, dinâmica de talentos e acuidade de mercado”.
A mulher moderna passou a escolher que papéis quer desempenhar. De mãe, esposa, empresária, líder. Atualmente o protagonismo feminino é muito discutido, mas em uma sociedade ainda machista como a latino-americana, é comum pensarmos em homens para assumir cargos de comandos.
Já temos diversos exemplos de grandes lideranças femininas pelo mundo afora, inclusive em setores antes visto como masculinos, como é o caso de Mary Barra, CEO da General Motors, Ginni Rometty, CEO da IBM e Safra Catz, CEO da Oracle. No Brasil, temos os exemplos de Paula Bellizia, CEO da Microsoft Brasil e Rachel Maia, CEO da Pandora Brasil.
As mulheres nas empresas familiares também estão ganhando espaço. Se no passado as filhas não eram vistas como capacitadas para assumir a sucessão, e somente eram lembradas para preencher cargos que ninguém queria, ou para ajudar no negócio, hoje vemos uma mudança de mentalidade.
Para encerrar, já que além de características de mulheres nas empresas familiares neste artigo abordamos a questão da sucessão, se você tiver interesse em aprofundar-se no tema, não deixe de ler outros dois posts:
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Créditos imagem: Pixabay por Igor Link
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