COVID-19 pode mudar o mundo do trabalho para sempre

Milhares de pessoas ao redor do mundo tiveram que aprender a trabalhar de casa sem perder o foco e sem deixar a produtividade ser afetada. A cada dia que passa, aumentam as discussões em torno da saúde mental e física das pessoas que, confinadas ou não, tiveram que adaptar-se a um novo estilo de vida.

Adam Grant, professor de administração e psicologia na Wharton School da Universidade da Pensilvânia, diz que “algumas pessoas sofrerão de estresse pós-traumático”. No entanto, de tantas mudanças que vêm acontecendo, e por mais traumática que possa ser essa experiência para a maioria de nós, Grant traz um alento.

De acordo com ele, quando o trauma passar é possível termos um crescimento (o qual ele chama de “crescimento pós-traumático”). Grant é também psicólogo organizacional, autor de best-sellers e apresentador do podcast, WorkLife. Em entrevista ao podcast World Versus Virus, do Fórum Econômico Mundial, ele fala sobre o impacto do trabalho durante a pandemia, e como o trabalho poderá melhorar.

A entrevista completa (em inglês) juntamente com o podcast sobre o novo mundo do trabalho está no We Forum. Para este artigo da Glic Fàs fizemos um resumo e destacamos os pontos que achamos serem mais importantes. Boa leitura!

Desafio da pandemia

Para Grant, durante a pandemia nossas fraquezas são expostas do mesmo modo que nossos pontos mais fortes. O desafio está em conseguirmos lidar com a incerteza e a imprevisibilidade. Nas nossas palavras – como já discutimos em outras ocasiões no blog da Glic Fàs – o maior desafio está em mantermos um pensamento estratégico.

O psicólogo cita um exemplo, destacando que pessoas neuróticas preferem inclusive sentir dor do que não ter ideia do que vai acontecer. E, como sabemos, em qualquer crise é muito difícil (para não falar impossível) conseguir prever um cenário com exatidão.

Mas, se por um lado o que vai acontecer é algo incerto, por outro somos seres completamente adaptáveis. Como disse Darwin, não é necessariamente a espécie mais forte que sobrevive, mas sim aquela que mais consegue adaptar-se. Já que a adaptabilidade pode ser um desafio para muitos, qual é a saída?

Conforme Grant na entrevista, a resposta está em dar uns passos para trás e analisar o passado. “Você pode reconhecer as dificuldades que enfrentou antes. Você pode aprender algo com as lições de sua própria resiliência e depois tentar descobrir ‘o que eu fiz efetivamente antes que isso funcione para mim hoje?’”, comenta.

Desafio para equipes

Falando em desafios, outra questão abordada pelo entrevistador é sobre como conseguimos manter um sentimento de pertencimento a um time quando estamos isolados em nossas casas. Grant concorda que a tarefa não é tão fácil quanto parece.

Ele conta que uma empresa teve a ideia de fazer tours virtuais pelos escritórios nas casas de seus colaboradores. Alguns apresentaram as lembranças que mantêm por perto, como desenhos feitos pelos seus filhos. Isso proporcionou uma conexão pessoal que não teria sido possível se todos estivessem no escritório.

Além do sentimento de pertencimento, a entrevista destacou  a questão dos introvertidos, cujas vozes tendem a ser esquecidas em um ambiente de grupo. Como muitas empresas têm percebido, várias das reuniões que faziam presencialmente não eram tão necessárias assim. E nessas reuniões os introvertidos geralmente saíam calados.

Grant sugere que este seria um bom momento para nossas empresas avançarem para um trabalho individual mais independente. Isso, de acordo com ele, é “a melhor abordagem se você deseja gerar muitas boas ideias em grupos”. Uma prática recomendada pelo psicólogo é a de pedir a todos do time para escrever ideias e as enviar a seus líderes que, por sua vez, as revisarão.

Desafio para líderes

Questionado se este seria um momento particularmente desafiador para líderes, Grant diz que o momento é ótimo para que eles sejam mais ativos quando se trata de planejamento. “Onde os líderes podem precisar ser um pouco mais práticos é descobrir como estão as pessoas no dia a dia. Este é um lugar onde os líderes têm a oportunidade de aprender”, fala.

Ele sugere que neste momento líderes podem dar um passo atrás e dizer: “Eu nem sempre aprendi tanto sobre os valores, interesses, pontos fortes, motivações de meus funcionários como deveria, e qual tempo melhor do que agora?”. Ainda, esta é a hora para líderes darem aos seus colaboradores mais controle e, quem sabe, descobrirem que podem confiar neles para gerenciar seus próprios horários.

Para Grant, tudo isso é também uma oportunidade para a liderança ser flexível e compassiva. Como ele diz, ninguém optou passar por isso, mas enquanto tivermos que enfrentar toda essa situação, como líderes podemos refletir: “Se eu impor menos controle sobre os horários e planos das pessoas, isso me ensinará se eu posso confiar nelas ou não “.

O psicólogo comenta ainda que líderes podem aproveitar a situação e deixar que funcionários façam algumas escolhas. Dessa maneira, eles sentirão um maior senso de lealdade e retribuirão a confiança que demonstram.

Desafio do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho

O mito do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. É assim que Grant se refere quando perguntado como o tal equilíbrio funciona em uma crise como a que estamos vivendo. “Se você se preocupa com sua família e se preocupa com seu trabalho, e também deseja priorizar saúde, amizades e hobbies, a ideia de que você possa ter um dia em que todas essas coisas estejam em perfeita harmonia é histericamente engraçada, se não errada”, fala na entrevista.

Ele comenta que, em sua visão, a maneira mais realista de gerenciar a crise é a de, ao invés de pensarmos no equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, pensarmos em ritmo de trabalho e vida pessoal. Grant conta que o equilíbrio para ele acontece de semana em semana, quando dedica dois dias totalmente focados no trabalho e, por exemplo, dois dias em que está no modo família.

Desafio de aprender com a pandemia

“Sendo tão ansiosos para voltar ao normal, depois de passar por essa longa crise, como podemos garantir que aprendemos com essa experiência?”, foi a pergunta do entrevistador. Grant sugere que quando tudo voltar ao normal, as pessoas sejam ouvidas para que compartilhem experiências e falem sobre o que funcionou e o que não funcionou para elas.

Ele destaca que a melhor maneira de aprendermos é sempre pelas experiências vividas e compartilhadas. Portanto, quando tudo passar, Grant deixa a sugestão de que possamos continuar evoluindo com relação ao que pensávamos serem nossas melhores práticas.

Segundo ele, vários estudos já estão sendo feitos neste sentido. Um deles é sobre o efeito de ter que trabalhar em casa com a produtividade em uma escala nunca antes testada. Ao final, aprenderemos também sobre o que acontece com a criatividade e conexão das pessoas quando a interação presencial não é possível.

Por fim: o que esperar do mundo do trabalho e quais são as lições positivas?

Grant cita o que muitos outros estudiosos também comentam, que é o fato de que veremos mais empregadores dando flexibilidade aos seus empregados para trabalharem em casa. Para ele, os líderes acabarão descobrindo que o home office traz ganhos de produtividade.

Com relação ao estresse pós traumático, em um nível individual cada um tem uma resposta ao trauma, e o crescimento se dá quando percebemos que melhoramos de alguma maneira. “Pode ser um senso intensificado de força pessoal; pode ser um sentimento mais profundo de gratidão; pode ser encontrar um novo significado ou investir mais em relacionamentos”, esclarece.

E você, o que acha que conseguiremos extrair de positivo de toda a situação que vivemos? Escreva um comentário e compartilhe sua opinião conosco. Não deixe também de ler ou ouvir a entrevista completa sobre o mundo do trabalho pós-pandemia.

Para mais artigos como este, acesse o Glicando, o blog da Glic Fàs.

Créditos imagem: Pixabay por congerdesign

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