Se tem algo que esse nosso século tem mostrado são as imensas mudanças tecnológicas. Algo que já foi prioritariamente uma preocupação de indústrias de engenharia e computação, a tecnologia hoje passa a ser fundamental para todos os segmentos.

Nessa linha, a palavra disrupção tem sido cada vez mais ouvida. Junto com ela corporações passaram a sentir na pele que para serem bem-sucedidas terão que ter flexibilidade para adaptarem-se e mudarem. Para isso, líderes precisam ser ágeis em enxergarem o movimento da mudança.

No entanto, se isso é fácil de escrever, nem sempre é fácil de colocar em prática. Lisa Kay Solomon, no artigo Why Every Leader Needs to Be Obsessed With Technology (Singularity Hub), conta uma história real que retrata a dificuldade de enxergamos mudanças no horizonte.

Nos anos 90, a Tower Records, empresa da Califórnia (EUA), era uma cadeia de lojas que vendia DVDs e CDs. Bem-sucedida e popular (sendo considerada como a Meca da música), a cadeia se espalhou. Com o sucesso, veio o plano de uma expansão mais agressiva. Para financiar o projeto, em 1998 a empresa assumiu uma dívida de US$ 110 milhões.

O problema, conforme conta a autora, foi de timing. No mesmo ano, entrou no mercado o aparelho mp3. O Napster, um serviço de compartilhamento que permite aos usuários compartilhar livremente músicas online, veio no ano seguinte. Em 2001, o iPod e o iTunes da Apple chegaram e, quando a iTunes Music Store foi aberta em 2003, a Apple vendeu mais de um milhão de músicas na primeira semana.

À medida que a música foi digitalizada, as cópias impressas começaram a ficar fora de moda e as vendas e receitas da Tower diminuíram. A empresa pediu falência pela primeira vez em 2004 e novamente (pela última vez) em 2006. A Internet, junto com a má administração e a concorrência de preços de varejistas de eletrônicos, como a Best Buy, contribuíram para o fim da Tower.

A questão que queremos abordar inicialmente é proposta por Solomon: por que é difícil para os líderes enxergarem as mudanças tecnológicas chegando e acertar a rota antes que seja tarde?

Mudança de mindset

“As empresas mais bem-sucedidas não estão simplesmente fazendo as mesmas coisas com mais eficiência com a tecnologia; ao contrário, elas estão usando a tecnologia para conduzir negócios de maneiras totalmente novas”, escreve Richard Lieberman, no artigo 6 Things You as a Leader Need To Know About Technology (Entrepreneur).

Conforme comenta o autor, o primeiro passo acontece quando os líderes reconhecem que estamos no meio de uma revolução tecnológica no mundo dos negócios. Revolução essa comparável à Revolução Industrial.

Na visão dele, é necessário criar uma cultura de colaboração dos funcionários com a tecnologia para operações internas mais produtivas e melhores processos para alcançar os clientes. Aliás, se tem uma receita praticamente infalível quando tratamos de transformação organizacional, ela é o tripé: pessoas, processos e tecnologia.

Para que os três itens possam andar em harmonia, líderes precisam incentivar funcionários, gerentes e executivos a adotar as novas tecnologias e pensar criativamente sobre como usá-las para alavancar os negócios. É importante, também, liderar pelo exemplo, usando a tecnologia em seu dia a dia.

Lieberman propõe a seguinte reflexão: “Líderes devem se perguntar se têm um entendimento realmente profundo de como sua empresa está usando a tecnologia em todas as áreas-chave do negócio. Por exemplo, em uma empresa de manufatura, a melhor tecnologia está sendo usada para tornar a cadeia de suprimentos a mais eficiente do setor? Ou para vendas, a tecnologia é usada das maneiras mais criativas e eficazes para alcançar os clientes por meio de mídias sociais, software de ponta etc.? As melhores tecnologias digitais são usadas para permitir que os funcionários se comuniquem uns com os outros?”

Mas, para que tudo isso faça sentido para você, precisamos responder à pergunta do título deste artigo e abordar, conforme a seguir:

A importância da tecnologia para os líderes

Um artigo publicado no site do World Economic Forum (Why automation, not augmentation is needed in leadership), comenta o fato de que as ferramentas analíticas desenvolvidas pela Inteligência Artificial podem analisar rapidamente a imensa quantidade de dados para identificar correlações e fazer previsões úteis e precisas.

“Ao aplicar essas tecnologias, as empresas podem automatizar essencialmente muitas decisões operacionais, liberando os líderes para se concentrarem mais em áreas onde o julgamento humano é claramente necessário”, menciona o texto.

Portanto, se por um lado a tecnologia pode automatizar grande parte das atividades de gestão, por outro líderes passam a ter mais tempo para liderar. Dessa maneira, eles também são desafiados a antecipar com precisão as mudanças no ambiente de negócios e a tornar suas organizações mais ágeis.

Outra questão sobre a importância da tecnologia para os líderes vem dos clientes, cujas expectativas estão aumentando. Eles esperam que suas necessidades sejam atendidas com rapidez, conveniência e pelo menor preço possível. Se uma empresa não atender às suas expectativas, uma ação é certa: migrarão para a concorrência.

Com esse raciocínio, líderes não têm outra opção a não ser adotar tecnologias e usá-las como aliadas. “O desafio da liderança é implantar novas tecnologias de maneiras que não apenas produzam novas eficiências, mas também ampliem a criatividade, engenhosidade e julgamento humanos”, menciona um outro artigo publicado na página do World Economic Forum (How technology can transform leadership – for the good of employees).

Como conseguir liderar nesse novo cenário?

Na introdução do artigo propusemos a pergunta de Solomon: “por que é difícil para os líderes enxergarem as mudanças tecnológicas chegando e acertar a rota antes que seja tarde?”

Uma das respostas seria a falta de curiosidade. Como cita a autora “Para saber como a tecnologia pode atrapalhar seu setor, você precisa entender o que está em andamento e identificar quais novas invenções estão direta ou indiretamente relacionadas ao seu segmento”.

Ela segue, e comenta que isso é um trabalho que exige disciplina, foco, compromisso e constantes análises de conexões não óbvias entre o que está bem à nossa frente e o que pode ser. Uma dica da autora é estar por dentro do que acontece fora da indústria de atuação e além da zona de conforto. Inclusive, muitos especialistas falam da importância de nos interessarmos por assuntos diferentes para expandirmos nossa criatividade e capacidade de observação.

O próximo passo – continuando com Solomon -, é buscar prever quando uma tecnologia amadurecerá. Aqui, acreditamos que o exercício de levar a visão para o futuro é fundamental. É interessante que líderes incentivem suas equipes a imaginarem o amanhã, não com achismos, mas com base no que acontece no mercado hoje e com a utilização de dados.

Em suma, seria questionar:

Quais empresas estão surgindo? O que seria, no seu setor, uma empresa disruptiva? Como ela venderia os serviços? Quais mudanças no seu setor poderiam trazer consequências negativas? Como prevenir-se delas? O que poderá ser positivo? Como aproveitar-se das vantagens?

O exercício é de reflexão, e para que boas ideias surjam é fundamental que líderes deem voz aos seus liderados. Afinal, ser um líder obcecado por tecnologia significa, também, entender que as principais mudanças só ocorrem quando uma cultura colaborativa e participativa é incentivada.

Concluindo

Embora os detalhes possam variar de acordo com o setor, nenhuma organização é imune a algumas das principais mudanças que já estão em andamento. Do mesmo modo, nenhuma empresa é imune ao que acontecerá no futuro.

Ser obcecado por tecnologia é entender que o que vivemos hoje é um caminho sem volta e que muito ainda está por vir. Se a história registra vários casos de grandes corporações que foram à falência porque resolveram fechar os olhos para o que estava vindo, temos que aprender com essas lições e, como líderes, mudar a maneira de agir e pensar.

Para encerrar, propormos uma última pergunta: você é um líder que analisa as mudanças tecnológicas? Como você enxerga a tecnologia no seu setor? Deixe um comentário contando sua opinião. E se este artigo foi útil a você, compartilhe-o com seus colegas.

Créditos imagem: Pixabay por Pete Linforth

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