“Trabalhe em algo que dê prazer” ou “trabalhe com o que você gosta e nunca terá que trabalhar”. Quantos de nós já lemos, falamos ou já ouvimos um desses conselhos sendo dado? De uns anos para cá, a tal da busca pelo prazer no trabalho tem deixado muitas pessoas deprimidas. E por quê?
O primeiro motivo é porque existe toda uma geração criada por pais que se aposentaram depois de décadas de trabalho em uma única companhia. São pessoas que atingiram a idade adulta vendo os progenitores não necessariamente felizes no trabalho, mas que ganhavam dinheiro suficiente para dar educação aos filhos, pagar as contas e garantir momentos de lazer.
Muitos dessa geração passam a questionar se fazer carreira em uma empresa não acaba sendo comodismo. Ou, ainda, se isso mostra uma aceitação de que não precisamos de novos desafios, mas sim de (somente) dinheiro no bolso. Por outro lado, vem a corrente de pensamento que diz que devemos ir atrás daquilo que gostamos, pois a recompensa financeira acaba sendo uma consequência.
A questão toda é que nem sempre é possível conciliar prazer, satisfação e dinheiro no bolso. Todavia, o que devemos é questionar nosso grau de envolvimento naquilo que estamos fazendo (independente se formos seguir carreira em uma empresa, sermos empreendedores ou estarmos constantemente em busca de novos desafios). Por isso, é fundamental que cada um de nós entenda que prazer e satisfação não são necessariamente a mesma coisa.
Para que você consiga entender o meu ponto de vista sobre prazer e satisfação, apresento Júlia e Carlos, personagens fictícios que são bailarinos profissionais. Para poderem realizar os movimentos com a perfeição exigida, os dois dedicam-se a incontáveis horas de treinamento. São dias inteiros voltados à musculação, dança, treinos longos, repetitivos e exaustivos.
De Júlia e Carlos vamos para Maria. Ela está com problemas de saúde e após uma conversa séria com seu médico entendeu a necessidade de perder peso. O objetivo é eliminar os 20 kg extras que estão danificando a qualidade de vida e aumentando consideravelmente colesterol, triglicerídeos e o nível de açúcar no sangue. Para conseguir isso, aquele gostoso pão francês precisa ser eliminado junto com massas, chocolates e refrigerantes. Será essencial uma reeducação alimentar além de, claro, um programa de atividades físicas diárias.
Outro personagem fictício, João, é escritor. Faz 6 meses que ele começou a escrever um romance e, nesse exato momento, enfrenta um bloqueio mental. Ele olha para a página em branco do computador e não consegue desenvolver nada.
O que Júlia, Carlos, Maria e João têm em comum? Todos querem atingir um resultado, seja apresentarem-se com excelência, perder peso ou terminar um livro. Em outras palavras: todos buscam o sentimento de satisfação de dever concluído.
Acontece que para chegar ao objetivo final será necessário muito esforço. Fazer uma dieta não é algo prazeroso, mas a satisfação de colocar uma calça que não servia é imensa. O treinamento longo e exaustivo de um bailarino é penoso, e um bom preparo físico exige abdicar de muita coisa que dê prazer. No entanto, ao se apresentar para uma plateia e ser reconhecido, o bailarino sente-se satisfeito. Já o escritor não necessariamente tem o sentimento de prazer 24 horas por dia ao lutar com as páginas em branco e o bloqueio criativo, mas fica satisfeito ao ver um capítulo bem escrito.
O prazer é algo momentâneo. Eu posso sentir prazer mesmo em uma dieta, comendo algo que seja saboroso. Posso sentir prazer ao estar em um palco dançando ou no processo de escrever um texto. Da mesma maneira, posso sentir prazer ao assistir a uma série ou beber uma cerveja.
Satisfação, por outro lado, requer um investimento. Não se trata apenas de realizar um desejo, mas sim de conquistar algo maior. É a sensação de dever cumprido. Colocado de outra maneira, diria que satisfação é um ato, prazer é um sentimento.
Os bailarinos dessa história podem sentir prazer na rotina de treinos, mas estarem desanimados após uma performance não satisfatória. O contrário também pode ocorrer: eles podem não achar a rotina muito prazerosa, mas sabem que ela é essencial se querem sentir-se satisfeitos com suas apresentações. Maria, de dieta, pode sentir prazer com o novo cardápio, mas não ter satisfação ao ver que o resultado na balança está muito abaixo do esperado.
Tudo isso porque, entre prazer e satisfação, é o segundo que dá aquela sensação de dever cumprido com êxito. Já o prazer é algo passageiro, que pode ou não resultar em algo positivo. Assim, vamos à questão central do texto:
No início destaco a frase “Trabalhe com algo que dê prazer”. Se o prazer for realmente algo momentâneo, isso significa que, no final das contas, trabalhar somente por prazer não necessariamente vai nos deixar realmente satisfeitos, pois não necessariamente teremos a sensação de que realizamos algo a mais.
Com isso, não quero dizer que prazer e satisfação não podem andar juntos. Logicamente que o ideal é unir o melhor dos dois mundos: é ter prazer em todas as atividades da sua rotina de trabalho ao mesmo tempo em que você se sente satisfeito ao final do dia com tudo que produziu.
Mas, como para a grande maioria de nós nem todas as nossas atividades são prazerosas, temos que entender que não tem nada de errado em não nos sentirmos cheios de alegria ao preenchermos uma planilha, por exemplo. Contudo, o que destaca um profissional – e separa o joio do trigo – é o entendimento de que o processo não precisa ser necessariamente prazeroso, mas a busca deve ser pelo dever cumprido com êxito. Ou seja: trata-se do sentimento de satisfação por ter dedicado horas em um projeto que deu muita dor de cabeça, mas que atingiu os objetivos esperados e fez o profissional crescer de alguma maneira.
E se prazer tem mais a ver com contentamento físico e imediato, enquanto que satisfação é um contentamento psíquico, é possível dizer que profissionais que sentem-se satisfeitos são aqueles que aceitam que nem tudo precisa ser prazeroso, mas que, ao assumirem uma atividade, a mesma deve ser executada de tal forma que seus resultados sejam motivo de orgulho para os envolvidos.
Por isso, muito mais do que procurar trabalhar por prazer, pense se não está na hora de trabalhar por satisfação e, assim, buscar atingir metas e objetivos que o façam aprender durante o processo, ao mesmo tempo em que você se sente plenamente realizado com o que alcançou.
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Artigo interessante. Necessário diferenciar a motivação da disciplina. Nem sempre estamos motivados, mas sempre precisamos de disciplina para fazer o que deve ser feito. A satisfação de cumprir o prometido e entregar o combinado deve sobrepor o prazer envolvido.
Muito bom seu artigo, Patrícia.
Ainda não tinha essa percepção sobre a verdadeira satisfação. Obrigada por partilhar seu conhecimento. E que Deus continue te inspirando para ajudar muitas pessoas com o verdadeiro conhecimento e melhoria para a Autoestima. Parabéns!!