No momento em que este artigo está sendo escrito, o Brasil conta com o total de 13.509 startups espalhadas em seu território. O dado é da Startupbase, que mostra também que os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são, respectivamente, os primeiro, segundo e terceiro colocados no ranking de número de startups.
Mas existem outros dados que não podemos fingir desconhecimento. De acordo com o Bureau of Labor Statistics (BLS):
Uma publicação da Harvard Business Review (“Why Start-ups Fail”, de Tom Eisenmann), diz que mais de dois terço dessas empresas não dão o retorno positivo aos seus investidores. Repetindo a pergunta: por que as startups falham?
Porque a culpa é do fundador. Será mesmo? É comum, ao perguntarmos por que um novo negócio deu errado, ouvirmos como resposta as inadequações dos fundadores. A maioria das pessoas cita a falta de coragem, a falta de capacidade de liderança e/ou a incapacidade de se adequar ao setor como razões comuns de fracasso.
Todos querem achar um culpado e nada mais natural do que “crucificar” o pai da criança. Mas a questão é que as startups falham por outros motivos. Tom Eisenmann, acreditando que os fundadores não deveriam ser os bodes expiatórios, decidiu conduzir uma pesquisa.
Além de entrevistar e pesquisar centenas de fundadores e investidores, ele leu relatos sobre contratempos empresariais e escreveu mais de 20 estudos de caso sobre empreendimentos malsucedidos. Para a pesquisa, Eisenmann comenta que tomou o cuidado de deixar de fora negócios claramente condenados ou que foram derrubados por forças externas inesperadas, como a pandemia de Covid-19.
Em suma, ele se concentrou em empreendimentos que tinham tudo para serem promissores, mas que falharam por causa de erros que poderiam ser evitados. O trabalho resultou no livro “Why Startups Fail”, no qual Eisenmann aborda seis padrões.
A Harvard Business Review compartilhou os seis principais erros pelos quais startups falham (ou os padrões que as levam a falharem). Confira:
Startups falham pelo entusiasmo dos usuários iniciais. Resumidamente, é isso que Eisenmann quer dizer com “falso-positivo”. Imagine que você decida rodar um MVP e a resposta do público envolvida seja animadora. Entusiasmado, você resolve então expandir o negócio.
O problema ocorre quando você se dá conta de que os clientes convencionais não possuem as mesmas necessidades daqueles primeiros. Em outras palavras: você interpretou mal os sinais do mercado.
Quando isso acontece, o empreendedor precisa fazer a reengenharia do produto e reeducar o mercado. “Esses esforços podem ser caros e consumir capital escasso, aumentando as chances de fracasso”, escreve Eisenmann.
Nesse padrão observado por Eisenman o que ocorre é o seguinte: o empreendedor descobre uma oportunidade atraente e tem um crescimento rápido. Consequentemente, investidores são atraídos, os quais fazem pressão por mais expansão.
A startup cresce, mas satura seu mercado-alvo original. A solução encontrada é partir para um novo segmento, expandindo a base de cientes. O problema é que esses novos clientes não se sentem atraídos pela proposta de valor da empresa.
Para piorar, de olho no rápido crescimento da startup outros concorrentes vão surgindo. Eles diminuem preços, fazem promoções, enfim, conquistam os clientes daquela startup promissora.
Como tudo é uma bola de neve, em algum ponto a empresa passa a ter clientes que custam mais para adquirir do que realmente valem. O empreendimento esgota o caixa e, então, os investidores vão embora.
Startups falham mesmo quando conseguem manter o fit do produto e conquistar muitos novos clientes. Nesse caso, elas falham porque têm problemas com financiamento. “Se um período de seca no financiamento começar exatamente quando uma startup de rápido crescimento está tentando levantar uma nova rodada, o empreendimento pode não sobreviver”, explica Eisenmann.
Além disso, falham porque recrutam as pessoas erradas (o que pode levar a desvios estratégicos, custos crescentes e a uma cultura disfuncional, como citado no artigo). Ou, ainda, porque não possuem executivos seniores com profunda experiência em gerenciar grupos maiores de funcionários em engenharia, marketing, finanças e operações.
Há também os empreendedores ambiciosos. Eles são pessoas que enfrentam vários desafios, como: “persuadir uma massa crítica de clientes a mudar fundamentalmente seu comportamento; dominar novas tecnologias; parceria com corporações poderosas que prosperaram a partir do status quo; garantir alívio regulatório ou outro apoio governamental; e levantar grandes quantias de capital”.
Esses empreendedores atuam com base no lema “fazer ou morrer”. Nesse caso, startups falham porque as estatísticas estão contra elas:
“Supondo que haja 50% de chance de um bom resultado para qualquer desafio, a probabilidade de obter cinco dos cinco bons resultados é a mesma que a probabilidade de escolher o número vencedor na roleta: 3%”, esclarece Eisenmann.
Investidores procuram fundadores com características como: resiliência, paixão, experiência na liderança de equipes de startup etc. Mesmo quando encontram esse talento para comandar uma empresa (Eisenmann chama de “raro talento”), existem outros papéis que oferecem uma contribuição essencial ao negócio, como é o caso dos funcionários.
Para Eisenmann, um grande fundador não é necessário para o sucesso inicial do empreendimento. Isso porque suas deficiências podem muito bem ser compensadas por membros da equipe de gerenciamento sênior. Sem contar que investidores e consultores experientes também podem fornecer orientação e conexões úteis.
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