Por que as startups falham?
No momento em que este artigo está sendo escrito, o Brasil conta com o total de 13.509 startups espalhadas em seu território. O dado é da Startupbase, que mostra também que os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são, respectivamente, os primeiro, segundo e terceiro colocados no ranking de número de startups.
Mas existem outros dados que não podemos fingir desconhecimento. De acordo com o Bureau of Labor Statistics (BLS):
- 90% das novas startups falham;
- 20% dos novos negócios falham durante os primeiros dois anos de abertura;
- 45% durante os primeiros cinco anos;
- 65% durante os primeiros 10 anos;
- ·penas 25% das novas empresas chegam aos 15 anos ou mais.
Uma publicação da Harvard Business Review (“Why Start-ups Fail”, de Tom Eisenmann), diz que mais de dois terço dessas empresas não dão o retorno positivo aos seus investidores. Repetindo a pergunta: por que as startups falham?
Startups falham porque….
Porque a culpa é do fundador. Será mesmo? É comum, ao perguntarmos por que um novo negócio deu errado, ouvirmos como resposta as inadequações dos fundadores. A maioria das pessoas cita a falta de coragem, a falta de capacidade de liderança e/ou a incapacidade de se adequar ao setor como razões comuns de fracasso.
Todos querem achar um culpado e nada mais natural do que “crucificar” o pai da criança. Mas a questão é que as startups falham por outros motivos. Tom Eisenmann, acreditando que os fundadores não deveriam ser os bodes expiatórios, decidiu conduzir uma pesquisa.
Além de entrevistar e pesquisar centenas de fundadores e investidores, ele leu relatos sobre contratempos empresariais e escreveu mais de 20 estudos de caso sobre empreendimentos malsucedidos. Para a pesquisa, Eisenmann comenta que tomou o cuidado de deixar de fora negócios claramente condenados ou que foram derrubados por forças externas inesperadas, como a pandemia de Covid-19.
Em suma, ele se concentrou em empreendimentos que tinham tudo para serem promissores, mas que falharam por causa de erros que poderiam ser evitados. O trabalho resultou no livro “Why Startups Fail”, no qual Eisenmann aborda seis padrões.
6 padrões pelas quais startups falham
A Harvard Business Review compartilhou os seis principais erros pelos quais startups falham (ou os padrões que as levam a falharem). Confira:
1 – Falso-positivo
Startups falham pelo entusiasmo dos usuários iniciais. Resumidamente, é isso que Eisenmann quer dizer com “falso-positivo”. Imagine que você decida rodar um MVP e a resposta do público envolvida seja animadora. Entusiasmado, você resolve então expandir o negócio.
O problema ocorre quando você se dá conta de que os clientes convencionais não possuem as mesmas necessidades daqueles primeiros. Em outras palavras: você interpretou mal os sinais do mercado.
Quando isso acontece, o empreendedor precisa fazer a reengenharia do produto e reeducar o mercado. “Esses esforços podem ser caros e consumir capital escasso, aumentando as chances de fracasso”, escreve Eisenmann.
2 – Armadilhas rápidas
Nesse padrão observado por Eisenman o que ocorre é o seguinte: o empreendedor descobre uma oportunidade atraente e tem um crescimento rápido. Consequentemente, investidores são atraídos, os quais fazem pressão por mais expansão.
A startup cresce, mas satura seu mercado-alvo original. A solução encontrada é partir para um novo segmento, expandindo a base de cientes. O problema é que esses novos clientes não se sentem atraídos pela proposta de valor da empresa.
Para piorar, de olho no rápido crescimento da startup outros concorrentes vão surgindo. Eles diminuem preços, fazem promoções, enfim, conquistam os clientes daquela startup promissora.
Como tudo é uma bola de neve, em algum ponto a empresa passa a ter clientes que custam mais para adquirir do que realmente valem. O empreendimento esgota o caixa e, então, os investidores vão embora.
3 – Falta de ajuda
Startups falham mesmo quando conseguem manter o fit do produto e conquistar muitos novos clientes. Nesse caso, elas falham porque têm problemas com financiamento. “Se um período de seca no financiamento começar exatamente quando uma startup de rápido crescimento está tentando levantar uma nova rodada, o empreendimento pode não sobreviver”, explica Eisenmann.
Além disso, falham porque recrutam as pessoas erradas (o que pode levar a desvios estratégicos, custos crescentes e a uma cultura disfuncional, como citado no artigo). Ou, ainda, porque não possuem executivos seniores com profunda experiência em gerenciar grupos maiores de funcionários em engenharia, marketing, finanças e operações.
4 – Milagres em cascata
Há também os empreendedores ambiciosos. Eles são pessoas que enfrentam vários desafios, como: “persuadir uma massa crítica de clientes a mudar fundamentalmente seu comportamento; dominar novas tecnologias; parceria com corporações poderosas que prosperaram a partir do status quo; garantir alívio regulatório ou outro apoio governamental; e levantar grandes quantias de capital”.
Esses empreendedores atuam com base no lema “fazer ou morrer”. Nesse caso, startups falham porque as estatísticas estão contra elas:
“Supondo que haja 50% de chance de um bom resultado para qualquer desafio, a probabilidade de obter cinco dos cinco bons resultados é a mesma que a probabilidade de escolher o número vencedor na roleta: 3%”, esclarece Eisenmann.
5 – Boa ideia, companheiros nem tão bons assim
Investidores procuram fundadores com características como: resiliência, paixão, experiência na liderança de equipes de startup etc. Mesmo quando encontram esse talento para comandar uma empresa (Eisenmann chama de “raro talento”), existem outros papéis que oferecem uma contribuição essencial ao negócio, como é o caso dos funcionários.
Para Eisenmann, um grande fundador não é necessário para o sucesso inicial do empreendimento. Isso porque suas deficiências podem muito bem ser compensadas por membros da equipe de gerenciamento sênior. Sem contar que investidores e consultores experientes também podem fornecer orientação e conexões úteis.
Desse modo, startups falham porque não conseguem atrair pessoas que possam contribuir com seu crescimento, mesmo que o fundador não seja tão bom assim. Mas, claro, se a ideia for apenas razoável, uma startup corre o risco de não se tornar um “ímã de talentos”.
6 – Falsos inícios
Por falsos inícios, Eisenmann refere-se às startups que negligenciam a pesquisa das necessidades do cliente antes de iniciar seus esforços de engenharia. Quando isso ocorre, os empreendedores acabam perdendo tempo e capital valiosos. Esse padrão tem sido observado por causa da retórica do movimento de lean startup: “lance cedo e frequentemente” e “falhe rápido”.
Concluindo
Conforme mostramos, em sua pesquisa Eisenmann constatou que funcionários, parceiros estratégicos e investidores podem desempenhar um papel crucial na queda de um negócio. Ou seja, na visão do autor, as startups falham não por culpa de seus fundadores, mas por outros possíveis motivos.
Destacamos que falhar será sempre uma possível realidade para todo dono de negócio. Mas ao reconhecer que várias falhas podem ser evitadas, os empreendedores poderão conduzir suas empresas e guiá-las para o crescimento de maneira correta.
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Créditos imagem principal: Unsplash por Israel Andrade.
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