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Os riscos financeiros não nasceram com o Acordo de Basileia

Riscos são inerentes a qualquer empresa. Justamente por isso é que bom gerenciamento de riscos é um aspecto essencial de uma administração bem-sucedida. Como comentamos em diversas outras oportunidades no blog da Glic, existem diversos níveis de controles para lidarmos com as ameaças e oportunidades que rondam nossos negócios (lembrando que um risco pode ser tanto algo negativo quanto positivo).

Gerenciar riscos tem a ver com tentar antecipá-los, avaliar os impactos potenciais nos negócios da empresa e estar preparado com um plano para reagir a eventos adversos. Dentre os riscos corporativos já abordados em outro post, neste artigo focaremos nos riscos financeiros.

O que são riscos financeiros?

À incapacidade da organização de não conseguir pagar suas dívidas damos o nome de risco financeiro. Ele envolve, por exemplo, a possibilidade de donos de empresas perderem capital ao usar o financiamento de dívida para iniciar ou operar seu negócio. Pode estar relacionado também à realização de investimentos dentro ou fora da empresa.

Portanto, de modo geral, riscos financeiros têm a ver com as chances que uma organização possui de perder dinheiro. Quando tocamos no assunto, o mais comumente referido é a possibilidade de que o fluxo de caixa se mostre inadequado para cumprir com as obrigações.

Riscos financeiros podem se espalhar de um negócio e afetar todo um setor, mercado ou até mesmo o mundo. Podem originar-se de fontes ou forças externas incontroláveis, sendo que muitas vezes é difícil de superar suas consequências.

Apesar disso, como todo risco, o financeiro em si não é inerentemente bom ou ruim. Claro que “risco” não é exatamente um atributo positivo. Todavia, ao compreender a possibilidade de riscos financeiros diretores e gestores tomam decisões – de negócios ou de investimentos – mais bem informadas. Além disso, nenhum progresso ou crescimento empresarial ocorre sem a suposição de algum risco financeiro.

Quais são os riscos financeiros?

Existem três tipos de riscos financeiros:

  • De crédito;
  • De mercado;
  • Operacional.

Riscos financeiros de crédito

Dentre os tipos de riscos financeiros, o de crédito é considerado como o mais comum. Ele é também um fator importante ao determinar a taxa de juros de um empréstimo no setor bancário: quanto maior o prazo do empréstimo, geralmente maior a taxa de juros.

Riscos financeiros de mercado

Riscos de mercado são os mais perceptíveis aos investidores, pois refletem sobre variados investimentos. Podemos defini-los como as variações de preço resultantes de eventos que acabam atingindo o mercado inteiro. Dentre esses eventos, citamos: ações, commodities, câmbio, taxas de juros, inflação, desastres naturais, mudanças políticas etc.

Também conhecido como risco sistêmico, um bom exemplo que temos de risco de mercado ocorreu em 2008, quando a queda de alguns dos principais bancos norte-americanos colocou toda a economia mundial em cheque.

É muito difícil uma empresa conseguir se proteger totalmente dos riscos financeiros de mercado. A fim de mitigá-los, uma estratégia bastante utilizada é a de diversificação de investimentos.

Riscos financeiros operacionais

Dos tipos de riscos citados aqui, o operacional é o que mais pode ser controlado e mitigado. Inclui os riscos resultantes de falhas nos procedimentos internos, pessoas e sistemas.

Pode ser resumido como risco humano, pois trata-se do risco de falhas nas operações de negócios devido a erro humano. Riscos operacionais variam de uma indústria para outra e devem ser considerados seriamente quando se analisam possíveis decisões de investimento. O menor risco operacional está nas indústrias com menor interação humana.

O que os riscos financeiros têm a ver com o Acordo de Basileia?

Antes, é preciso entender do que se trata este acordo. Conhecido oficialmente como International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards, o Acordo de Basileia foi firmado em 1988, na cidade de Basileia (Suíça), com os objetivos de:

  • Regular o funcionamento de bancos e instituições financeiras; e
  • Garantir que as instituições financeiras tenham capital suficiente para atender às obrigações e absorver perdas inesperadas.

O tratado, ratificado por mais de 100 países, fornece recomendações sobre a regulamentação bancária em relação aos três tipos de riscos financeiros que abordamos: risco de capital, de mercado e operacional.

O Acordo de Basileia não ficou restrito ao documento criado em 1988. Como foram observadas necessidades de aprimorar os termos, o Comitê da Basileia se reuniu outras duas vezes. Portanto, ele é dividido em três partes:

  • Basileia I (1988): seu foco está na adequação de capital das instituições financeiras. O risco de adequação de capital está relacionado ao risco de uma instituição financeira ser prejudicada por uma perda inesperada. O Basileia I determinou os Fatores de Ponderação de Risco dos Ativos, os quais classificam os ativos das instituições financeiras em cinco categorias de risco (0%, 10%, 20%, 50% e 100%). Bancos que operam internacionalmente são obrigados a ter um peso de risco de 8% ou menos.
  • Basileia II (2004): foi uma atualização do acordo original. Centra-se em três áreas principais: requisitos mínimos de capital, revisão da supervisão do processo de adequação de capital e avaliação interna e uso eficaz da divulgação como alavanca para fortalecer a disciplina de mercado e encorajar práticas bancárias sólidas.
  • Basileia III (2010): o Basileia II não levava em conta condições de mercado e não mencionava mecanismos para lidar com épocas de recessão ou de expansão econômica. Assim, ao perceber uma má governança e uma gestão de risco ineficaz, em julho de 2010 foi acordado o Basileia III. No Brasil, ele foi implantado pela Inst CMN 4192/2013. O tratado determina que o nível do patrimônio deve flutuar de acordo com o ciclo da economia e torna os bancos mais preparados para períodos de estresse econômico e financeiro.

Os três tipos de riscos financeiros segundo o Acordo de Basileia

O Acordo de Basileia, em suas três versões, definiu:

  • Riscos de crédito: risco de não pagamento, possíveis perdas que o banco tenha caso o devedor (contraparte) não honre com os seus compromissos;
  • Risco de mercado: risco de perdas em decorrência de oscilações em variáveis econômicas e financeiras, como taxas de juros, taxas de câmbio, preços de ações e de commodities;
  • Risco operacional: risco de perdas inesperadas de uma instituição, em virtude de seus sistemas, práticas e medidas de controle serem incapazes de resistir a erros humanos, à infraestrutura de apoio danificada, fraudes etc. e a mudanças no ambiente empresarial.

Como mostramos, o Acordo de Basileia serve como precaução contra os riscos financeiros. Ele garante a liquidez (solvência) do sistema financeiro, definindo o mínimo de reservas internas que um banco deve manter para cumprir suas atividades num nível de risco aceitável. No entanto, os riscos financeiros já existiam antes disso. Um exemplo é a crise do petróleo, em 1973.

Na ocasião, os preços do produto dispararam e os países árabes, que mais lucraram, depositaram os dividendo em bancos ocidentais, os quais eram fontes de empréstimos para os países em desenvolvimento. Prevendo ganhos astronômicos, o bancos emprestaram dinheiro a diversos países, entre eles o Brasil.

O problema é que, na época, o empréstimo foi feito sem garantias reais de como o dinheiro seria devolvido. A partir daí a bola de neve foi aumentando, causando uma recessão mundial.

De forma bem resumida, o exemplo mostra a importância do Acordo em definir como tratar os riscos de crédito que já eram um problema em todo o mundo e foram causas de várias crises mundiais.

Concluindo

Toda organização que deseja crescer inevitavelmente terá que assumir riscos financeiros, os quais estão relacionados às chances que uma empresa possui de perder dinheiro. O mais comumente referido ao tratar desse tipo de risco é a possibilidade de que o fluxo de caixa da empresa se mostre inadequado para cumprir com suas obrigações.

Vimos três tipos de riscos financeiros: de crédito, de mercado e operacional. Sobre a pergunta do título, como mostramos, os riscos financeiros já existiam antes do Acordo de Basileia. O papel do tratado é especialmente importante porque hoje temos uma maior confiabilidade e estabilidade do Sistema Financeiro Internacional. Isso graças à formalização de boas práticas e princípios de supervisão bancária e contabilidade, algo que tem muito a ver com a Governança Corporativa.

Caso você tenha interesse em se aprofundar no universo de Gestão de Riscos, Governança Corporativa e outros temas relevantes para a gestão do seu negócio, convidamos a conhecer o Glicando, o blog da Glic Fàs.

Esperamos que este artigo tenha sido útil a você. Em caso afirmativo, fique à vontade para compartilhá-lo com seus colegas.

Créditos imagem: Unsplash por eberhard grossgasteiger.

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Patricia C. Cucchiarato Sibinelli
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