Como se definem os 3 círculos na sua família empresária?
Uma empresa familiar possui três dimensões: família, propriedade e negócio. Em um cenário ideal, os interesses de cada uma dessas dimensões deve convergir. Quando isso não ocorre, a empresa começa a vivenciar problemas que podem, inclusive, afetar o grupo familiar como um todo (isto é, não apenas na esfera profissional).
Para visualizar melhor a convergência das três dimensões (e também a divergência), existe o que ficou conhecido como Modelo dos três círculos para empresas familiares. Ele foi apresentado por nós no post Por que profissionalizar a gestão da empresa familiar?, e compartilhamos novamente com você para que possa entender o que falamos até aqui:
Como mecionamos brevemente os círculos em outra oportunidade, hoje queremos trazer uma abordagem mais completa. Vamos lá?
Como surgiu o Modelo dos três círculos para empresas familiares?
O Modelo dos três círculos para empresas familiares foi desenvolvido em 1978 por John Davis e Renato Tagiuri. Rapidamente se tornou a estrutura central de organizações para entender os sistemas de empresas familiares. Com 40 anos de existência completados em 2018, o diagrama continua sendo relevante e é utilizado por famílias, consultores e acadêmicos em todo o mundo.
Na época em que John Davis e Renato Tagiuri aprofundaram suas análises sobre empresas familiares e desenvolveram o diagrama de 3 círculos, pouco havia sido escrito sobre qualquer aspecto das organizações familiares. Existia um modelo conceitual, mas, ao contrário das três dimensões, o mesmo era composto por uma estrutura de dois círculos, sendo que família e negócio eram os sistemas sobrepostos.
Apesar de mais simples, o modelo teve seus méritos. O principal foi o de ter mostrado como família e negócios se influenciam mutuamente. Com isso, percebeu-se a necessidade e a importância do alinhamento de metas e interesses tanto familiares quanto de negócios.
Contudo, quando Tagiuri e Davis estavam procurando uma estrutura para categorizar as questões, interesses e preocupações que estavam ouvindo dos estudantes executivos de Tagiuri que lideravam empresas familiares, perceberam que os dois círculos não eram capazes de captar as interações e tensões nos sistemas desses negócios.
Por isso, ambos resolveram ir além. Conforme conta o artigo How Three Circles Changed the Way We Understand Family Business, no outono de 1978 Davis reviu alguns casos e Tagiuri desenhou os dois conhecidos círculos para representar a família e o negócio.
“Isso é parte disso”, lembra Davis, dizendo: “Mas neste sistema, eles estão lutando para conseguir ações na empresa. Alguns dos membros da família são proprietários e outros não, e os dois círculos não são responsáveis por isso.”
Foi então que Tagiuri esboçou um terceiro círculo sobreposto aos dois primeiros, rotulando-o de Propriedade.
“É isso”, disse Davis. “Algumas dessas pessoas são proprietárias, algumas são membros da família, outras são ambas. E alguns também são gerentes da empresa.”
Qual a importância do Modelo dos três círculos para empresas familiares?
Quarenta anos após o desenvolvimento do Modelo dos três círculos, todos os sistemas familiares atuais podem ser descritos utilizando-o. Ainda, o diagrama com as três dimensões permitiu a definição de empresas familiares de Tagiuri e Davis:
Uma empresa familiar é aquela cuja propriedade é controlada por uma única família e em que dois ou mais membros da família influenciam significativamente a direção e as políticas do negócio, por meio de seus cargos de gerência, direitos de propriedade ou papéis familiares.
Além disso, ao adicionar o círculo de Propriedade passaram a vir à tona questões que não eram explicitamente reconhecidas pelos dois primeiros círculos. Ficou claro, por exemplo, que a sucessão tinha a ver com a passagem de liderança e propriedade. Capitalizar uma empresa familiar, por vezes, exigia trazer proprietários externos. Enfim, como você pode perceber, o Modelo dos três círculos para empresas familiares definiu completamente o sistema de negócios da família, entendendo que o mesmo é a integração de todos esses três subsistemas.
E como podemos analisar o diagrama das 3 dimensões?
O Modelo dos três círculos para empresas familiares descreve sete grupos de interesses distintos (ou partes interessadas), conforme explicado no artigo citado:
- Familiares não envolvidos no negócio, mas que são descendentes ou cônjuges/parceiros de proprietários;
- Proprietários de família não empregados no negócio;
- Proprietários não-familiares que não trabalham no negócio;
- Proprietários não-familiares que trabalham no negócio;
- Empregados não-familiares;
- Membros da família que trabalham no negócio mas não são proprietários;
- Proprietários da família que trabalham no negócio.
Perceba que os 3 círculos identificam onde as pessoas-chave estão localizadas no sistema, bem como pensa sobre os diferentes papéis que os membros da família podem ter. Por exemplo: um membro pode ser um proprietário da empresa familiar ou um funcionário dela. Cada uma dessas pessoas-chave (ou sete grupos de interesses) tem seus próprios pontos de vista, metas, preocupações e dinâmicas.
Se você analisar novamente a figura 1 logo no início do artigo, verá que há áreas de sobreposição. São nelas, como comenta Davis, que o cuidado deve ser ainda maior, pois indicam uma possível confusão de papéis (como na confusão entre herdeiro e sucessor). Portanto, o sucesso a longo prazo dos sistemas de empresas familiares depende do funcionamento e do apoio mútuo de cada um desses grupos, lembrando que o Modelo dos três círculos para empresas familiares reforça dois fatos:
- Os pontos de vista de cada grupo são legítimos e merecem ser respeitados; e
- Os diferentes pontos de vista devem ser integrados para definir a direção futura do sistema de negócios da família.
Por fim: ainda podemos confiar no Modelo dos três círculos para empresas familiares?
Entendemos que muitas empresas mudaram em 40 anos e que, por isso, parece que o modelo já está ultrapassado. O que permite que o diagrama ainda seja estudado e analisado é principalmente o fato de ele ser flexível. Por exemplo, sogros, divórcio, adoção e quem quer que a família considere como membro do negócio da família (afinal, uma organização familiar vai além ds laços de sangue), estão conectados através da propriedade e, portanto, são papéis consistentes com o Modelo.
Conseguiu entender melhor sobre o Modelo dos três círculos para empresas familiares? Caso queira se aprofundar, sugerimos o artigo How Three Circles Changed the Way We Understand Family Business, de onde retiramos as informações que compartilhamos com você.
Além disso, no post Por que profissionalizar a gestão da empresa familiar?, além de apresentar rapidamente o modelo, apresentamos alguns mecanismos utilizados por organizações familiares para administrar e preservar seus interesses. Se interessar a você, não deixe de lê-lo.
Esperamos que este post tenha sido útil a você. Fique à vontade para deixar um comentário contando o que achou. Aproveite que está aqui e acesse o Glicando, o blog da Glic Fàs.
Créditos imagem: Glic Fàs
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