Inovação em empresas familiares: como enfrentar esse desafio
Em outra oportunidade, abordamos alguns dos desafios enfrentados por empresas familiares. Para muitas organizações gerenciadas por famílias, outra barreira se faz presente: a inovação. É muito comum pessoas associarem negócios familiares com organizações quadradas, avessas ao risco e sem capacidade de inovar.
Essa visão explica-se por alguns fatores:
- Empresas familiares cujo líder não teve experiência de trabalho em outro local costumam não se interessar (ou não dar importância) para ideias inovadoras de outras indústrias.
- Em algumas organizações familiares existe a ideia de que “ninguém entende da nossa família e do nosso negócio como nós”. Isso faz com que haja uma falta de disposição dos membros familiares (especialmente aqueles que estão no negócio há décadas) em adotar boas ideias vindo de fora.
- Como todas as fichas estão apostadas na organização familiar, os membros familiares tendem a ter um certo receio em assumir riscos, o que muitas vezes acaba estagnando a empresa.
A inovação em empresas familiares é algo muito discutido e nossa proposta hoje é mostrar os dois lados da moeda:
- Características de empresas familiares inovadoras e
- Como colocar em prática a inovação em empresas familiares
Para iniciar, vamos à questão:
Como empresas familiares trabalham com a inovação?
O Harvard Business Review divulgou um artigo intitulado Research: Family Firms Are More Innovative Than Other Companies (em português, “Pesquisa: Empresas familiares são mais inovadoras que outras organizações”). De acordo com o HBR, negócios familiares investem menos em inovação, mas quando o fazem, são muito mais precisos e eficientes.
Como apresentamos na introdução, membros familiares tendem a ser receosos em assumir riscos justamente porque praticamente todos os ovos estão colocados em uma mesma cesta. Acontece que para empresas familiares inovadoras, isso não é algo especialmente negativo.
A pesquisa do Harvard Business Review descobriu que esse medo em assumir riscos faz com que os proprietários do negócio familiar sejam mais parcimoniosos com relação aos investimentos em inovação. Nesse caso, a inovação em empresas familiares ocorre somente após a certeza de que os recursos serão empregados de maneira realmente efetiva. Assim, organizações familiares são mais pacientes com seu capital no sentido de evitar inovar por inovar.
Um ponto positivo para a inovação em empresas familiares está em tempo de mercado. O Harvard Business Review aponta que a inovação foi percebida em empresas familiares cujos proprietários têm um profundo conhecimento do setor, da empresa e de seus stakeholders. “Eles também passam um tempo considerável com a organização e se comunicam frequentemente com funcionários, clientes e outras partes interessadas”, diz a matéria.
Outro ponto destacado pela pesquisa tem a ver com a geração da liderança. Conforme o HBR mostra, empresas lideradas por membros de gerações mais novas são mais inovadoras do que aquelas lideradas por seus fundadores. Quando inovam, negócios familiares gerenciados por fundadores são menos eficientes, ou seja, têm menos resultados do que o que foi percebido em empresas liderada por novas gerações.
Como colocar em prática a inovação em empresas familiares?
Em primeiro lugar, a inovação em empresas familiares tem muito a ver com a cultura. Uma cultura paternalista, na qual líderes são detentores do poder e tomam as decisões-chave, tende a ser fechada a novas ideias, o que torna difícil o processo de inovar.
Quando o sucessor se defronta com essa situação, ele deve entender que o caminho para reverter esse cenário pode ser longo. Muitas vezes, isso significará adotar uma cultura mais participativa e claro que isso não acontece da noite para o dia. Conforme explicamos neste artigo, o primeiro passo do sucessor é o de identificar o padrão de cultura da empresa.
A cultura está ligada aos valores dos fundadores, e é importante que isso se mantenha, desde que esses valores não sejam barreiras para a inovação. Por isso, a inovação em empresas familiares só ocorre quando a cultura é gradualmente modificada naquilo que for necessário.
O Harvard Business Review, na mesma matéria, comenta que líderes de negócios familiares devem ser comprometidos e informados sobre o que acontece em suas organizações. Nesse caso, o sucessor deve também ser o incentivador da inovação, compartilhando informações com seus colaboradores e alocando recursos para projetos inovadores.
A pesquisa do HBR também identifica que a inovação em empresas familiares acontece quando são promovidos encontros entre CEO e colaboradores. Isso pode ser tanto em um almoço com CEO e funcionários, na organização de eventos e workshops, ou até mesmo por meio de um bate-papo para que haja aproximação da alta liderança com seus liderados.
Como sucessor interessado em levar a inovação ao negócio, tenha em mente que os colaboradores devem se sentir como parte da empresa, sabendo exatamente o que se espera deles e qual o rumo da organização. Só assim é que pensar e desenvolver novos produtos, processos ou serviços fará sentido para os funcionários.
Caso haja membros familiares avessos à inovação, uma boa maneira de mudar essa mentalidade é apresentar dados dos concorrentes e comparar os resultados alcançados por eles e pela sua empresa, e fazer uma análise de mercado em médio prazo. Informações baseadas em números são mais confiáveis e abrirão os olhos dos demais membros com relação à necessidade de dar um passo rumo à inovação.
Como a inovação em empresas familiares não acontece em um passe de mágica, estipule uma verba para projetos inovadores e acompanhe os resultados. À medida que o caixa da empresa sentir a diferença, mais abertos para inovarem estarão os demais líderes, e mais dinheiro poderá ser alocado.
Concluindo
A inovação em empresas familiares pode ser muito mais eficiente do que em negócios não familiares, conforme apontou a pesquisa do Harvard Business Review. Apesar disso, ainda vemos muitos sucessores sofrendo para introduzir a inovação na empresa.
Como procuramos mostrar, os sucessores devem primeiro avaliar a cultura da organização. Em seguida, é necessário introduzir pequenas mudanças de modo que essa cultura não seja avessa à inovação. É preciso lembrar de que a inspiração vem de cima, sendo assim, a inovação em empresas familiares somente é possível quando toda a liderança atua como incentivadora.
Dar espaço para trocas de ideias e intensificar o contato entre líderes e liderados é fundamental. Além disso, como vivemos em um ambiente de altíssima competitividade, os sucessores de hoje devem estar ainda mais antenados ao que ocorre tanto na sua indústria quanto nas demais.
Por fim, não esqueça que a comunicação deve ser transparente. Caso você, como sucessor, tenha assumido um negócio de cultura mais paternalista, vá aos poucos dando espaço aos seus funcionários para que eles possam participar das tomadas de decisão. E não esqueça: garanta que o planejamento estratégico da sua empresa tenha espaço para projetos inovadores.
Esperamos que este artigo tenha sido útil a você. Se sim, compartilhe-o com seus colegas. Como chegamos ao fim, deixamos como sugestão nossos outros textos sobre empresa familiar. Acesse o blog da Glic Fàs e saiba mais.
Créditos imagem: Pixabay por Fancycrave1.
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